Fugas - Viagens

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  • Na grande Avenida Samora Machel, destaca-se a estátua que homenageia aquele líder moçambicano e Presidente da República entre 1975 e 1986
    Na grande Avenida Samora Machel, destaca-se a estátua que homenageia aquele líder moçambicano e Presidente da República entre 1975 e 1986 Manuel Roberto
  • O Forte de Maputo, também conhecido por Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, foi edificado no século XVIII, próximo do porto de pesca, na Praça 25 de Junho 
NELSON
    O Forte de Maputo, também conhecido por Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, foi edificado no século XVIII, próximo do porto de pesca, na Praça 25 de Junho NELSON Pedro Cunha
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Maputo em 48 horas - e Portugal aqui tão perto

Maputo em 48 horas

Com apenas dois dias para descobrir o que a capital moçambicana esconde, não perdemos muito tempo a conhecer o hotel onde ficamos alojados, o Cardoso, mesmo sendo este um dos mais emblemáticos da cidade (e de onde se tem a melhor vista do pôr do sol de Maputo). Em vez disso, armamo-nos do essencial — mochila, máquina fotográfica e alguns euros para trocar por meticais — e decidimos caminhar do topo da colina à linha costeira.

A caminhar tranquilamente pelas ruas, enfeitadas de acácias rubras e jacarandás, e por onde o quotidiano só parece perturbado pelo Dia Internacional Contra a Corrupção, com um grupo de jovens a distribuírem informação pela população, vamos evitando pisar o lixo que se assemelha a um silencioso e perigoso invasor.

Descendo a agitada Avenida Vladimir Lenine, é difícil a um português não se sentir em casa. A estrutura da cidade é familiar e as conversas são fáceis de seguir. Paradoxalmente, poucas vezes nos sentimos tão turistas quanto aqui. Talvez pela falta deles, o que faz com que a postura de quem anda em passeio sem destino certo não passe inobservada. Não tarda haverá uma legião de homens simpáticos e sorriso rasgado a tentar vender-nos colares ou pequeníssimas esculturas em madeira. Metem conversa, perguntam de onde vimos, falam de clubes de futebol, das suas vidas, da necessidade de venderem as suas bijuterias, de como “a vida não é fácil”. Sempre sem deixar de sorrir. Mesmo quando declinamos a oferta pelo simples facto de ainda não termos trocado os tais euros por meticais. Não que o euro não seja bem aceite, mas nisto de negócios de rua o câmbio nem sempre é o mais favorável, sobretudo numa altura em que a moeda nacional enfrenta uma enorme depreciação.

O comércio de rua é uma constante. Por toda a parte se encontra alguém a vender alguma coisa: frutas e legumes, muitos pacotes de batatas fritas, refrigerantes, cajus e, claro, artesanato local. Ainda assim, o melhor local para comprar objectos representativos da arte moçambicana é na Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia (Feima), com entrada pela Avenida Mártires da Machava. Num enorme espaço ao ar livre não faltam barraquinhas com tudo o que se possa imaginar: peças em madeira esculpida, pedras, capulanas (pano que se destaca pela riqueza de cores e motivos e que é usado como peça de vestuário), bolsas, bijuteria…

A toda a volta, centenas de batiques transformam o recinto numa galeria de arte ao ar livre. As peças não são as mais baratas que se podem encontrar na cidade, mas a maioria delas é de qualidade. Além do mais, como nos explicaria um dos comerciantes, enquanto expunha os seus trabalhos junto ao gradeamento, há muito investimento em cada uma delas, quer em tempo quer em materiais. No caso dos batiques, explica, enquanto nos mostra as pontas dos dedos de quem passa os dias neste ofício, é necessário cobrir de cera o que não deve ser tingido antes de mergulhar o tecido na cor para depois remover toda a cera. Naqueles que nos mostra, a técnica é repetida no mínimo quatro vezes antes de se poder dar a peça por concluída. E, nos dias que correm, com os maputenses a partirem de férias e os turistas a escassearem, não é fácil vender o trabalho. Enquanto passeamos entre as banquinhas, poucos compradores avistamos. Por isso não é de estranhar que os vendedores matem o tempo num tabuleiro de damas improvisado com tampas de refrigerantes como peças. O mesmo não deverá ser possível nos últimos domingos do mês, quando a Feima recebe também uma mostra gastronómica, com muitos pratos típicos para provar, dizem-nos, e por vezes alguns momentos de música.

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