Fugas - Viagens

  • Pedro Cunha
  • Manuel Roberto
  • Manuel Roberto
  • Na grande Avenida Samora Machel, destaca-se a estátua que homenageia aquele líder moçambicano e Presidente da República entre 1975 e 1986
    Na grande Avenida Samora Machel, destaca-se a estátua que homenageia aquele líder moçambicano e Presidente da República entre 1975 e 1986 Manuel Roberto
  • O Forte de Maputo, também conhecido por Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, foi edificado no século XVIII, próximo do porto de pesca, na Praça 25 de Junho 
NELSON
    O Forte de Maputo, também conhecido por Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, foi edificado no século XVIII, próximo do porto de pesca, na Praça 25 de Junho NELSON Pedro Cunha
  • Nelson Garrido
  • Manuel Roberto
  • Manuel Roberto
  • Manuel Roberto
  • Manuel Roberto
  • Nelson Garrido

Continuação: página 4 de 6

Maputo em 48 horas - e Portugal aqui tão perto

O baixar cada vez mais rápido do sol anuncia a chegada da noite para breve, mas Maputo ainda assim não pára de vibrar, por esta altura mais familiar: os jardins enchem-se de pessoas a passear os seus cães, de pais a jogarem à bola com os filhos pequenos, de carrinhos de bebés. Enquanto isso, as pequenas bancas de vendedores vão sendo recolhidas e arrumadas.

A Casa de Ferro

Pela grande Avenida Samora Machel, além da estátua que homenageia aquele líder moçambicano e Presidente da República entre 1975 e 1986, há um edifício que se destaca pela inusitada estrutura, quase totalmente em ferro, a lembrar as grandes obras de Gustave Eiffel. A verdade, relatar-nos-iam mais tarde no seu interior, é que não há provas que a casa tenha tido dedo directo do engenheiro francês. Mas tudo aponta para que tenha saído dos estiradores da sua escola. Ainda assim, é fácil perdoar o erro que há uns anos se tornou viral e que dava a Eiffel a autoria da estação de comboios já visitada. É que há pelo menos um (quase) Eiffel em Maputo.

Pré-fabricada na Bélgica, as peças da Casa de Ferro chegaram sob a encomenda do então governador-geral para servir de sua residência, mas nunca chegou a cumprir o seu destino. As razões não são difíceis de adivinhar. Mesmo hoje, já dotada com um moderno equipamento de ar condicionado, as paredes em ferro parecem estar permanentemente a absorver o calor de um sol que raramente dá tréguas.

Actualmente sede da Direcção Nacional da Cultura, e com uma exposição de arqueologia que prontamente nos convidam a conhecer, a casa acabaria por ter distintos fins e implantações, antes de ter chegado ao Jardim Tunduru, na época Jardim Vasco da Gama. Albergou uma instituição de ensino católico, os Serviços Geográficos-Cadastrais e até o departamento de obras da Câmara Municipal, tendo sobrevivido aos dias difíceis de 1974, altura em que foi ocupada pelas Forças Populares de Libertação de Moçambique.

Ainda vamos a meio da manhã, mas o sol já vai bem alto. Afinal, o amanhecer começa pelas cinco e a essa hora já muita gente corre para os trabalhos, amontoando-se nos chapas — pequenos autocarros que servem de transporte público e que são a principal forma de ligar o centro nevrálgico da capital à periferia, onde habita a maioria dos maputenses que fogem às rendas elevadíssimas da cidade — num país onde o salário mínimo oscila entre os 3000 e os 7800 meticais (entre 60 e 155 euros), as rendas atingem facilmente os dois mil dólares (93.660 meticais).

A discrepância entre os valores do custo de vida e o auferido volta a ser mote de conversa no Mercado Central, também conhecido pelo Bazar da Baixa. Aqui o ritmo volta a ser marcado pela falta de gente às compras: “Está tudo muito caro”, explica-nos a dona de uma das bancas de legumes. O problema é a desvalorização do metical que, ao longo de 2015, caiu quase 50% face ao dólar. As bancas revelam riqueza de cores e cheiros, entre especiarias, frutos secos, frutas de nos fazer salivar — nunca antes tínhamos comido líchias tão gordas nem tão doces.

--%>