Fugas - Viagens

  • Pedro Cunha
  • Manuel Roberto
  • Manuel Roberto
  • Na grande Avenida Samora Machel, destaca-se a estátua que homenageia aquele líder moçambicano e Presidente da República entre 1975 e 1986
    Na grande Avenida Samora Machel, destaca-se a estátua que homenageia aquele líder moçambicano e Presidente da República entre 1975 e 1986 Manuel Roberto
  • O Forte de Maputo, também conhecido por Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, foi edificado no século XVIII, próximo do porto de pesca, na Praça 25 de Junho 
NELSON
    O Forte de Maputo, também conhecido por Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, foi edificado no século XVIII, próximo do porto de pesca, na Praça 25 de Junho NELSON Pedro Cunha
  • Nelson Garrido
  • Manuel Roberto
  • Manuel Roberto
  • Manuel Roberto
  • Manuel Roberto
  • Nelson Garrido

Maputo em 48 horas - e Portugal aqui tão perto

Por Carla B. Ribeiro

Em Maputo, sentimos África e o seu caos, o Índico e uma história que se mescla com um eterno potencial de futuro pressentido num mar de gente na labuta quotidiana. Mas também sentimos Portugal, embrenhado nas ruas, na língua, nos costumes. Tudo concentrado em 48 horas.

Há poucas coisas tão estranhas quanto sair do país onde se vive, viajar durante quase um dia inteiro de avião, percorrendo dois continentes e dois fusos horários, com escala em países tão distintos quanto a Turquia e a África do Sul, e aterrar num sítio onde automaticamente nos sentimos em casa. Não fosse o calor e a humidade que nos abraçam assim que pisamos pé fora do avião e até poderíamos acreditar que voáramos num qualquer simulador. É que em Maputo respira-se África, mas também um certo Portugal que resiste na arquitectura, mesmo que desgastada pelo tempo, na língua, nos costumes, na gastronomia, na história e até no futebol.

O desafio é conhecer Maputo em 48 horas e decidimos aproveitar esse tempo para seguir as pisadas do Portugal que por aqui resiste sem virar costas ao frenesim vibrante africano. Mas, a bem de uma espécie de manual de sobrevivência, iniciamos outras lições ainda no aeroporto, quando alguém acende um cigarro na ressaca da nicotina e um desconhecido sai, discretamente, em nosso auxílio: “Não atirem o cigarro para o chão; a polícia está a olhar.” A indicação, num aeroporto imaculadamente limpo, leva-nos a sonhar com uma cidade em igual estado. Puro engano. Afinal, trata-se apenas de um aviso contra as autoridades: o melhor é não as desafiar e passar despercebido, evitando assim um dissabor em forma de coima.

Ao longo dos dois dias mais avisos chegam: não circular com o passaporte original e nunca guardar dinheiro no bolso de trás das calças — “é onde os portugueses são conhecidos por guardar as notas” — são apenas algumas das outras dicas que vamos ouvindo aqui e ali. Também as grades que protegem todas as janelas dos edifícios, e algumas montadas em andares bem altos, ou o arame farpado e electrificado que protege as vivendas de uma das zonas mais ricas revelam o sentimento de insegurança que se vive na cidade. Mas, não estando entre as mais seguras de África, nem havendo o cuidado com os turistas como o que se sente em países mais dependentes desta área da economia que Moçambique, é muito fácil andar pela rua sem quaisquer problemas, desde que nos despojemos da formalidade e de apetrechos valiosos. Seja a que horas for. Mesmo quando a noite já vai alta e toda a cidade parece adormecida. Mas a melhor altura para percorrer a urbe é durante o dia, quando esta fervilha de vida, de quem nela habita mas também de quem percorre todos os dias muitos quilómetros para vir trabalhar. Tal como todas as capitais do mundo, Maputo vive de uma verdadeira multiculturalidade. A começar pelos moçambicanos, que chegam de todos os cantos do país para tentarem aqui a sua sorte, e sem esquecer os milhares de estrangeiros que todos os anos se instalam na cidade para ocupar uma qualquer posição numa das muitas multinacionais que encontraram na capital moçambicana as condições ideais para crescer — caso das empresas de construção e tudo o que lhes está associado — ou para tentarem aqui o seu próprio negócio. Oportunidades não faltam, dizem-nos. Nem coisas para fazer num país que ainda se está a fazer, acrescentamos.

--%>