Mergulho no Índico
Maputo, no Sul do país, recebe influências do Índico e da corrente quente do Canal de Moçambique, que resulta num clima tropical e húmido. Chegamos com o Verão e, por isso, Maputo tem menos gente do que habitual — “e para a semana não se encontra ninguém...”, avisam-nos. As férias são aproveitadas para fugir das chuvas e, ao mesmo tempo, para explorar um território ímpar — é fácil chegar ao Kruger, por exemplo, e pelo menos dois países ficam a parcas centenas de quilómetros, como a África do Sul e a Suazilândia. Além disso, não é difícil encontrar praias verdadeiramente paradisíacas. Mas para isso é necessário percorrer alguns quilómetros e muitas horas, até porque as distâncias devem ser contabilizadas em tempo e não em metros — como viríamos a comprovar quando decidimos descobrir a praia mais próxima da cidade a apenas 30 quilómetros, mas onde só conseguimos chegar depois de quase duas horas.
Macaneta, em Marracuene, está longe de ser a praia idílica dos postais que queremos levar para casa, alertam-nos. Mas é a melhor entre as mais perto de Maputo e a única à qual ainda conseguimos ir sem perder o avião de regresso. Ainda assim, de minutos contados, não arriscamos o chapa e combinamos a viagem de táxi. Pelas estradas cruzamo-nos com os bairros que vão crescendo desorganizadamente em torno da capital, ao mesmo tempo que enfrentamos o caos do trânsito.
Ao mesmo tempo que Maputo se esvazia ao fim do dia, à sua volta os bairros ganham uma vida ímpar, cheia de cores, fumos, cheiros e, claro, marrabenta. É ao som destes ritmos que esperamos pela nossa vez no velhinho ferry que une as duas margens do rio Incomati. Os carros vão fazendo fila e as pessoas esperam pacientemente, sob um sol escaldante, que um dos tripulantes desta grande jangada retire a água do alçapão que impede que o motor arranque.
O atraso é aproveitado pelo comércio local que vai vendendo águas e cervejas num incessante combate ao calor. Algo que poderá acabar muito em breve com a conclusão da ponte que é o troço que falta para ligar Marracuene a Macaneta de carro. “Como vão fazer depois da conclusão da ponte?” “Há sempre quem venha por aqui”, desvaloriza a proprietária de um quiosque que se divide entre a venda dos bilhetes para o ferry e a venda de apetrechos de praia.
A perícia da tripulação consegue arrumar um número de carros que nos parecia impossível, e é difícil não recear que a embarcação acabe no fundo do rio. Mas cerca de cinco minutos depois já chegámos à outra margem para prosseguir os quase cinco quilómetros que nos restam até à linha costeira. Enquanto seguimos rumo ao Índico, o tripulante do ferry volta a abrir o alçapão e a repetir todas as manobras para retirar a água a balde que se acumula a cada viagem.
A estrada é ainda de terra batida e o mar sente-se cada vez mais próximo. Paramos por fim naquilo que nos parece um curto caminho até à praia, achando não valer a pena sacrificar mais o carro. Mas o Índico mostrar-se-ia difícil de conquistar e, sem qualquer fim à vista, ainda teríamos uns três quilómetros pela frente para caminhar sob um sol que não dá tréguas. E parece não haver creme protector eficaz. Por isso, mesmo com o calor a apertar, opto por tapar todo o corpo — ainda assim não escaparia a um escaldão na única zona que ficou por cobrir: as mãos!