É como um convite para errar pela cidade, tão ignorada perante a proximidade de tantas atracções (Mérida, por exemplo, está a menos de 70 quilómetros), mais mediáticas e mais exploradas pela indústria do turismo. Em Izamal respira-se serenidade e melancolia. E, todavia, a cor está sempre lá, uma única, a amarela, para nos deter como um semáforo. Ora nos contempla das suas casas térreas, ora nos recorda a sua história, escrita nas fachadas de igrejas, de um amarelo que queima e atinge toda a sua plenitude durante o entardecer silencioso e dourado. O anúncio do crepúsculo derrama luz por todos os recantos, os raios do sol brilham no empedrado, parecem transmitir uma outra dimensão às ruas, e o final de tarde adquire sempre as cores outonais, seja na Primavera, no Verão ou no Inverno.
Por vezes, nada mais se ouve do que o ruído produzido pelas calesas e pelos cascos dos cavalos, martelando as ruas empedradas, transportando um ou outro turista.
Integrando, desde 2002, o projecto dos Pueblos Mágicos de México, apoiado pela Secretaria do Turismo (Sectur), Izamal tem vindo a resgatar e a restaurar, desde essa altura, todos os espaços que possam atrair mais visitantes, além daqueles — e são muitos — que recebe devido à sua forte vocação religiosa. O monumento mais procurado é o convento fransciscano de Santo António de Pádua, erguido sob a plataforma de uma pirâmide maia (da qual foram utilizados materiais para a sua construção) e um dos mais extensos do mundo se contabilizarmos o amplo átrio que o enlaça (com quase oito mil metros quadrados) e que se estende para lá de 75 arcos resplandecendo, como todo o conjunto, de amarelo.
Mandado levantar pelo frei Juan de Mérida entre 1553 e 1561, serviu também de residência ao ínfame Diego de Landa — o responsável pelo Auto de Fé de Mani, ordenando a destruição de códices maias e de cinco mil imagens de culto desta civilização —, o bispo que terá mandado vir desde a Guatemala duas virgens imaculadas, uma para Mérida e outra para Izamal, conhecidas como as duas irmãs (uma outra lenda fala de sete irmãs espalhadas por diferentes povoações). A Nossa Senhora de Izamal, padroeira de Iucatão, se atribuem diversos milagres (entre eles ter-se tornado mais pesada quando quiseram levá-la a Valladolid, uma cidade próxima) mas não resistiu a um incêndio em 1829. A sociedade mexicana, com o seu conhecido fervor religioso, pediu em peso à proprietária da irmã gémea da virgem que a oferecesse a Izamal e esta, a pé, foi transportada em procissão solene desde Mérida até ao camarim onde continua a merecer quase todas as atenções de quem visita a cidade.
No exterior, o sol gigante sobe no céu e faz incidir os seus raios sobre a cidade de cor única mas de muitos títulos: a cidade dourada, das colinas, a cidade das três culturas (pré-hispânica, colonial e contemporânea) e, o mais sonante, o orvalho do céu, correspondendo esta última designação à derivação da palavra maia Isamal ou Zamná.
Ao longe, avista-se a pirâmide de Kinich-Kakmó, construída em honra das divindades maias do sol e do fogo.