Fugas - Viagens

  • Reuters/Mariana Bazo
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira
  • Ireneu Teixeira

Continuação: página 3 de 9

Amazónia: Mergulhar na floresta

O Sol já vai alto e toca-nos com os seus braços abrasadores, mas o jorro de água proveniente da proa ameniza a fritura, ainda assim menos desumana que a sentida em Manaus. Alguns caboclos, uns solitários, outros acompanhados, cumprem as travessias diárias, percorrendo as estradas fluviais da Amazónia. Asfalto ou terra batida só mesmo nas localidades dignas de toponímia.

Cobras, jacarés e futebol

A travessia passa pelas franjas de uma cidadezinha chamada Alvarães, com pouco mais de 15 mil habitantes, e boa parte do Mamirauá pertence a este município, para onde algumas pessoas da reserva se mudam na época das cheias – e onde estudam as crianças a partir dos dez anos. Logo a seguir, adentramos num enorme lago. A localização valeu o nome da comunidade onde iríamos ficar: Boca do Mamirauá. A lancha ancora num canavial que esconde crocodilos e piranhas. Estouro com a escala do entusiasmo. “Era isto mesmo”, pensei em surdina.

Uma ponte em madeira tosca conduz-nos do rio à Comunidade, dentro  da Reserva de Desenvolvimento Sustentável, a maior área de floresta inundada protegida no mundo. Acrescenta o nosso guia Tito, com convicção: “Este é o melhor local para visitar a Amazónia, em função da riqueza e endemismo da fauna e flora da região”. E alguém duvida? Degustado um delicioso pirarucu fomos conhecer o mini-povoado enquanto se construíam mais camas, por falta de leitos para os hóspedes. Sem pressões ou stresses. “Esta comunidade é que nem coração de mãe, cabe sempre mais um”, atira Ruth, cozinheira, esposa de Choca e uma espécie de responsável política pela comunidade.

As crianças estavam num frenesim inaudito perante a presença daquele pequeno grupo de gringos, não fossem (também) os gaúchos cara-pálidos e maioritariamente descendentes de europeus. Fomos desafiados para uma partida de futebol, uma modalidade que apenas precisa de duas balizas e uma bola. E gente para dar uns pontapés na redondinha. Mas aqui todos são praticantes, independentemente do sexo e idade. Equipas divididas e tudo pronto para começar, ou talvez não... invasão de campo! Uma cobra resolveu fazer-se convidada mas fora rapidamente detectada pelo alarme vozeiro dos petizes, que a cercavam entre a curiosidade e o pânico. O bichinho estava encurralado e pronto a atacar – “não sabemos se é venenosa ou não, mas é das que ataca com o corpo, como um chicote”. As explicações fizeram-me recuar, aguardando que o convidado indesejado seguisse em direcção da mata. Foi um primeiro impacto selvagem, mas, na verdade, o intruso ali era o ser humano.

Também não havia apanha-bolas. Porquê? Porque de um lado temos um braço da lagoa de Mamirauá apinhado de piranhas e crocodilos; do outro temos uma floresta cerrada repleta do sei-lá-do quê e de onças furtivas que impedem longos passeios ao luar. Olhei para os meus pés descalços e mandou o bom senso que calçasse o par de meias não se repetisse a invasão do ervado... A contenda termina ao lusco-fusco, que aqui pousa mais cedo. Nota explicativa: apenas perdi o jogo porque o meu guarda-redes (que teria uns 8 anos) não chegava à trave da baliza!

--%>