Fugas - Viagens

  • Sérgio Azenha
  • Sérgio Azenha
  • Arbour Hill, onde foram
enterrados, numa vala comum,
14 dos 16 líderes executados
    Arbour Hill, onde foram enterrados, numa vala comum, 14 dos 16 líderes executados Sérgio Azenha
  • General
Post Off ice, o
quartel-general
dos rebeldes;
    General Post Off ice, o quartel-general dos rebeldes; Sérgio Azenha
  • exposição no
Little Museum
of Dublin
    exposição no Little Museum of Dublin Sérgio Azenha
  • Richmond Barracks
    Richmond Barracks Sérgio Azenha
  • Kilmainham Gaol;
    Kilmainham Gaol; Sérgio Azenha
  • GPO Witness
History
    GPO Witness History Sérgio Azenha
  • GPO Witness
History
    GPO Witness History Sérgio Azenha
  • Glasvenin Cemetery
    Glasvenin Cemetery Sérgio Azenha

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A ''terrible beauty'' ou o nascimento de uma nação

Não tomaram o castelo (mas aqui houve a primeira baixa, um polícia desarmado), não ocuparam Trinity College (uma espécie de fortaleza), mas ocuparam uma fábrica de biscoitos e uma padaria — havia que assegurar a comida, brinca. Tomaram a decisão “incompreensível” de se instalarem no Stephen’s Garden, cavando trincheiras em território rodeado de esguias casas georgianas que compõem muito do centro da cidade, tornando-se presa fácil para os britânicos, instalados no Hotel Shelbourne; entretanto, conta-se, houve momentos de tréguas, por exemplo, para alimentar os patos do lago (ainda assim 22 foram mortos no fogo cruzado).

Stiletto in the ghetto

Pés ao caminho, a direcção é a O’Connell Street, a avenida principal de Dublin e local central da Revolta de 1916. Antes avistamos o actual Banco da Irlanda, antigo parlamento irlandês, até 1800, ano do Act of Union, que uniu o Reino da Grã-Bretanha ao Reino da Irlanda, formando o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda e transferiu todos os poderes para Westminster. Atravessamos a ponte homónima, sobre o rio Liffey, que separa o sul, de onde partimos, do norte da cidade e avistamos o Liberty Hall: o edifício que já foi o mais alto do país é o sucessor do “original”, que em 1916 (tal como hoje) era sede do maior sindicato do país e do Irish Citizens Army, o seu braço “armado” (formado para proteger os trabalhadores da brutalidade policial durante as greves de 1913). Por esses dias, erguia-se uma grande faixa na fachada: “Nós não servimos nem rei nem kaiser, mas a Irlanda”; por estes dias, lê-se “Há outra rebelião a acontecer agora. Ajudem-nos a combater as mudanças climáticas”. Foi um dos primeiros alvos britânicos, que, ao contrário do que previram os rebeldes, não hesitaram em atacar a cidade com artilharia pesada.

A O’Connell Street, uma avenida, recebe-nos com o monumento a Daniel O’Connell (1775), conhecido como “o libertador”. O memorial, de pedra e bronze, tem marcas de balas que recordam os acontecimentos de 1916 — e os pássaros que ali se empoleiram, às vezes confundindo-se com o bronze, também deixam a sua marca. Seguindo O’Connell acima, já quase diante do GPO (e, entretanto, já vimos quiosques com bandeiras e t-shirts comemorativas da rebelião), nova estátua que recorda James Larkin, co-fundador do Irish Citizen Army, um orador brilhante. Na base da estátua, um slogan herdado da revolução francesa: “Os grandes parecem-nos grandes porque estamos de joelhos. Ergamo-nos.”

Chegamos diante do GPO e da Spire of Dublin, também conhecida, conta Collins, como “the erection at the intersection” ou “the stiletto in the ghetto”. É, apesar de novíssima, um resquício de 1916: aqui ergueu-se o Pilar de Nelson, uma espécie de “quilómetro zero” da cidade e visto como uma sombra colonialista, que alguém fez explodir em 1966, antes das comemorações do cinquentenário da rebelião. O GPO ostenta a única fachada neste troço entre o rio e o antigo Pilar de Nelson que não ruiu durante os confrontos em 1916. No início da rebelião continuou a funcionar normalmente, com os funcionários a apresentarem-se sempre ao trabalho. Nas colunas que suportam o frontão do edifício neo-clássico, Collins saca vários projécteis para tornar mais visuais os buracos de balas que ainda se vêem.

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