Arbour Hill
Depois de percorrer a história da Revolta da Páscoa de 1916, só poderíamos fechar a porta em Arbour Hill. Aqui, numa vala comum foram enterrados 14 dos 16 líderes executados. Estamos na órbita das Collins Barracks (parte do museu nacional que por estes dias alberga uma exposição relacionada com os acontecimentos de 1916) e da prisão de Arbour Hill. Antes de ser prisão, o terreno pertencia a uma guarnição britânica e ainda se mantêm algumas lápides antigas num canto do agora jardim e a igreja que a servia e agora serve a prisão.
Chegamos no meio de mais obras para as celebrações do centenário — todos os anos, as cerimónias passam por aqui — e encontramos um grupo de irlandeses, vindos de perto, de Tallath, a prestar homenagem. A coroa de flores com as cores da bandeira irlandesa que trouxeram está depositada junto do muro de cimento, aos pés de uma cruz dourada rodeada da inscrição da Proclamação da República, em inglês e gaélico (crítica de Mick Langan: “Foi escrita em inglês, para quê mudar a história?”). Em breve, um bagpiper, de kilt laranja, casaco verde e boina azul (um veterano que serviu nos capacetes azuis da ONU) vai iniciar o longo lamento na gaita-de-foles. Há pessoas comovidas, outras concentradas, há quem tire fotos e faça vídeos, mesmo que para isso pise o ponto fulcral deste local: a vala comum. O rectângulo relvado está debruado por placas de calcário, com o nome de todos os que aqui foram enterrados — e porque todos merecem nome: Thomas Clarke, Thomas Mac Donagh, Pádraig Pearse, Edward Daly, Michael O’Hanrahan, William Pearse, Joseph Mary Plunkett, John MacBride, Con Colbert, Éamonn Ceannt, Seán Heuston, Michael Mallin, James Connolly and Seán Mac Diarmada. Os outros líderes executados foram Sir Roger Casement (Londres) e Thomas Kent (Cork).
Glasvenin Cemetery
Mais de um milhão e meio de pessoas estão enterradas no cemitério de Glasvenin — mais do que os “vivos” de Dublin — e entre estas muitos dos que nos últimos dois séculos lutaram pela liberdade irlandesa. “80%das pessoas que ajudaram a criar a Irlanda estão aqui enterradas”, sublinha Langan. Daniel O’Connell, que liderou o processo para a sua abertura (1832) e a consagração a todas as religiões, descansa aqui num monumento funerário que é o ponto central do cemitério. Mais que não seja pela torre circular que se ergue alta, como tantas outras nas paisagens irlandesas. Na cripta, ricamente decorada, o caixão de O’ Connell encontra-se ao centro numa caixa pétrea aberta de lado — dá boa sorte tocar no caixão.
Os “1916 Rising Tours” centram-se no chamado “talhão republicano”, onde os nomes são familiares: Arthur Griffith, fundador do Sinn Féin (1905); Eamon De Valera, “Dev”, que depois de quase 40 anos de governo (participou na rebelião, fundou o partido Fianna Fáil e acabaria por ser primeiro-ministro e Presidente da República), terminou com a imagem tão desgastada como os quatro cravos secos Na sua sepultura. Uma imagem em tudo oposta à sepultura de Michael Collins, que com Griffith negociou o tratado que instituiria o Estado Livre da Irlanda: coroas e ramos de flores, mensagens manuscritas, incluindo de escolas e de uma francesa que, há 40 anos, todos os dias de São Valentim, vem deixar um ramo — ainda vemos o deste ano, “Love, Verónique”.