Mas há muitos mais revolucionários aqui enterrados, como a condessa Markievicz e John Devoy, “o maior dos fenianos”, parte da rebelião de 1867, da revolta de 1916 e da Guerra da Independência. Não fazem parte do tour, mas aqui está também enterrado Edward Hollywood, o homem que criou a bandeira irlandesa, trazida de Paris em 1848 (verde a representar a tradição gaélica irlandesa, laranja para os lealistas, seguidores de William of Orange, e branco como símbolo da aspiração de paz entre ambos) ou Peadar Kearney, que escreveu a letra de Amhran na bhFiann, adoptada como hino nacional.
GPO Witness History
Quando chegamos ainda se corria contra o tempo para ter tudo a postos para a grande abertura, 29 de Março, a seguir à segunda-feira de Páscoa. Mas o coração do novo centro de visitantes do GPO já estava a bater — com vozes e sons de bombardeamentos que recriam a semana da Páscoa de 1916. Sabemos que aqui foi o quartel-general dos rebeldes. Agora, durante 90 minutos, propõe-se que os visitantes vivam com eles nesses dias em que todos os sonhos foram possíveis. “Para os irlandeses é muito entusiasmante”, explica Aline Fitzgerald, “é a primeira vez que vão poder ver a história e ouvi-la contada por testemunhas dos acontecimentos”. Isso graças à tecnologia utilizada, em sintonia com objectos privados — “aqui não há heróis, há homens e mulheres”, por isso mostram-se desde cartas a mechas de cabelos de filhos, lâminas e escovas de barbear — e outros artefactos mais bélicos, como armas, medalhas, fardas, que foram utilizados nesses dias pelos rebeldes.
O tom é dado pelo icónico quadro de Walter Paget, Birth of the Irish Republic, numa versão a preto-e-branco e numa revisitação de Robert Ballagh, cores fortes, figuras bem delineadas a negro. Na sala principal, os visitantes podem dispersar-se pelas vitrinas, pelas representações de cenários da época, desde uma barricada a uma sala de telecomunicações ou até ao interior de casas (as opulentas e os cortiços), pelos jogos interactivos ou pelos vídeos em que historiadores dão visões distintas dos acontecimentos. A peça principal é, contudo, um ecrã semicircular onde mergulhamos em plena acção, escutando diálogos entre rebeldes (como aquele em que falam da desaprovação dos seus conterrâneos, mas da viragem nas gerações futuras: “The republic will come home”), quase como se de 3D se tratasse. No pátio está a homenagem mais singela e emotiva: 40 peças de calcário negro retiradas da Jacob’s Biscuit Factory (um dos postos avançados dos rebeldes) representam as 40 crianças mortas durante a revolta e durante muito tempo negligenciadas pela história. Neste primeiro andar, a exposição The Tale of Two Irelands mostra como a Revolta da Páscoa foi comemorada nos últimos cem anos.
Epic Ireland
Estamos a pouca distância do Abbey Theatre, o teatro nacional da Irlanda, em pleno distrito financeiro, nas margens do Liffey. Um antigo armazém de vinho e tabaco é agora um moderno complexo que alberga restaurantes, start-ups, galerias de arte, lojas gourmet, boutiques de autor. A 7 de Maio abrir-se-ão as portas de um ambicioso projecto, Epic Ireland, onde a proposta é nada mais nada menos do que explorar “a jornada de um povo”, como diz o slogan.