Quando o visitamos, com a responsável do Grupo de Restauração da Richmond Barracks (uma organização cidadã), Éadaoin Ní Chléirigh, como guia, os trabalhos ainda se centram na construção.
Os habitantes do St. Michael’s Estate, um bairro social, estão ansiosos pela abertura, na esperança que traga um desenvolvimento a esta zona negligenciada de Dublin, o Goldenbridge Integrated Service Complex. A comunidade está profundamente envolvida no projecto e na vizinha The Yarn School, edifício minúsculo, encontramos algumas das mulheres que estão a trabalhar num projecto especial, celebrando as mulheres da rebelião. 77 mulheres de hoje para as 77 mulheres de então que estiveram presas no quartel: o resultado será um quilt, com impressão em linho, em que cada uma revisita as motivações dessas mulheres e o que lhes poderiam dizer. A uma dela, Bridget Murtagh, aqui da zona, que teve um marido abusivo e morreu de parto aos 40 anos, dizem “Don’t marry your man”, por exemplo. A bisneta de uma dessas mulheres, Bridget Hegarty, que vive aqui perto, também contribuiu. Depois do quilt as mulheres não querem parar e já têm algumas tote bags prontas para continuar o projecto — os produtos serão vendidos no novo museu.
Kilmainham Gaol
Kilmainham Gaol é um nome infame na história irlandesa: prisão criada em 1796, manteve-se em actividade até 1924, quando o Estado Livre a mandou fechar — mas já depois de quatro republicanos aqui terem sido executados durante a Guerra Civil. Recuperada através de trabalho voluntário, alberga um museu sobre o nacionalismo irlandês e oferece visitas guiadas.
Nós embarcamos numa destas, que começa pela parte antiga da prisão, a ala oeste, pedra viva, húmida, sombria. A primeira paragem, na igreja, recorda um dos episódios da Revolta de 1916: o casamento de Joseph Plunkett e Grace Gilford, poucas horas antes da execução dele — ela, artista e membro do Sinn Féin, também haveria de ser prisioneira aqui, durante a Guerra Civil. Os corredores abrem-se para celas exíguas que recebiam entre quatro a oito prisioneiros com apenas uma Bíblia e uma vela, a única fonte de calor — as mulheres e as crianças tinham ainda pior sorte, dormiam nos corredores, expostos aos elementos. Numa das arcadas lê-se agora “Be aware of the risen people” e seguimos até uma cela invulgar: um quarto grande, com cama, janela e lareira. Não era um bom sinal estar aqui, significava que se tinha 24 horas de vida.
É quase um alívio chegar à ala este, vitoriana. Esta é uma imagem que já vimos em vários filmes — por exemplo, Michael Collins ou In the Name of the Father — e é inesquecível com a sua arquitectura em panóptico, circular, portanto, onde do centro se conseguiam ver todos os prisioneiros. A luz invade por uma clarabóia e ilumina a estrutura que, com as escadas de ferro e corredores superiores, quase parece um aracnídeo. As celas dos líderes de 1916 estão assinaladas.
Mas é nos pátios exteriores, paredes que parecem de castelo agora maculadas de andaimes (preparativos para as cerimónias oficiais do centenário), que se situa o local mais icónico de 1916 — no pátio da pedreira, entre 3 e Maio de 1916, foram executados 14 rebeldes: uma cruz de madeira num dos topos, a bandeira irlandesa hasteada. “You are free to go”, diz o guia ao terminarmos a visita.