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Dois repórteres numa viagem de 34.798 quilómetros

Quanto ansiávamos ver lémures? Tanto qu e passámos quase 24 horas entre Estocolmo e Madagáscar, com uma directa, duas escalas (Paris e Seychelles) e quatro refeições de avião semicomestíveis (entre os pratos: um burrito gorduroso com salada de frutas, ratatouille e arroz com uma salada de cenoura cremosa, e montes de pão embalado em saquinhos).

Tanto que ficámos fechados durante mais de cinco horas num carro aos ziguezagues por estradas cheias de camiões, crianças em marcha, vendedores de lagostins, e carrinhos empurrados por zebus, o gado local. Tanto que sacrificámos o sono muito necessitado, levantando-nos cedo para ver os lémures diurnos e ficando acordados até tarde para fazer passeios (com horas de jet-lag) de forma a ver os noctívagos (a solução para a falta de sono: dormitar em cada viagem de carro, por muito curta que fosse). Também superámos lesmas, mosquitos da malária e gigantescas teias de aranha que desciam como cortinas na floresta. Tudo por um primata.

Mas os lémures não são um animal qualquer e Madagáscar não é um país africano qualquer. A ilha ao largo da costa oriental abriga todos os lémures selvagens do mundo: 105 espécies. E eles estão praticamente por todo o lado.

O Parque Nacional Andasibe-Mantadia é um dos quatro habitats dos lémures mais próximos da capital, Antananarivo, uma metrópole clamorosa, com prédios coloridos nas colinas entre campos de arroz e campos secos. A reserva conta com uma dúzia de espécies de lémures, entre outras criaturas, como pássaros (muitos endémicos), camaleões, sapos, cigarras, borboletas, bichos-pau e muitas aranhas diferentes. Começámos no sector de Mantadia, que só é acessível através de um caminho de gado em terra batida.

Ficaram a doer-me as costas, não dos 90 minutos de empurrões, mas por tentar virar-me para conseguir uma posição semi-horizontal para descansar. O sofrimento do Jabin foi muito pior: a sua cabeça não parava de bater, como se estivesse a simular um “truz truz” na janela do carro.

O nosso guia, Liva, era como uma enorme dose de cafeína. Estava em profunda comunhão com a natureza (os pássaros respondiam mesmo aos seus chamamentos) e o seu entusiasmo pela vida selvagem manteve-nos acordados. Entrámos no interior da selva, pisando raízes e fugindo de grossas teias de aranha.

Ao longe ouvíamos os gritos dos lémures pretos e brancos, um som que parecia a versão em heavy metal dos cantos das baleias. Apurando o ouvido, Liva seguia as vozes até à sua origem. Enquanto víamos uma família a defender o seu território dos intrusos (nós?), Liva andava à procura de outras espécies. Regressou com alguns achados: lémures peludos e dorminhocos (que inveja), o raro lémur de barriga vermelha, os Sifakas diademados, também conhecidos como lémures dançarinos, que parecem usar perneiras cor-de-laranja.

Às vezes as pessoas vêm ao parque e não vêem lémures nenhuns”, diz ele. “Vocês viram quatro espécies. Tiveram sorte.”

Ao contrário do que aconteceu com as minhas calças de ganga, que se rasgaram numa das subidas, a nossa sorte com os lémures continuou. Acrescentámos à lista o lémur-bamboo e o lémur vulgar castanho na ilha dos Lémures, um refúgio para os lémures resgatados de situações domésticas. Nos passeios nocturnos, demos de cara com os olhos de Beanie Boo dos lémures-rato e vimos um camaleão mudar de cor de amarelo banana para um laranja mais chique com riscas verdes.

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