Em vez de desmoralizar, virámos a adversidade de pernas para o ar. Conduzimos (do lado esquerdo, uma reminiscência do jugo britânico) até Victoria, onde passámos uma tarde soalheira-chuvosa-soalheira. A capital compacta mistura estilos das antigas potências coloniais com as cores e texturas da cultura africana. Uma sinfonia de inglês, francês e crioulo invade as ruas.
Fomos procurar uma lembrança, fugindo dos produtos fabricados na China, no centro de artesanato caseiro Cooperative des Artisans, que os britânicos criaram na década de 1930 para promover os talentos locais. Vagueei por entre os cestos de ráfia e bolsas feitas por três senhoras de idade, mas o Jabin não apoiou a ideia: aquele delicado trabalho de mãos nunca resistiria aos tombos da viagem, sobretudo às cabines dos aviões. O responsável da loja sugeriu um artesanato mais resistente do tamanho de um minibagel e que parecia... bem, digamos simplesmente que o placard da floresta de palmeiras em Praslin descreve a forma da semente como “pornográfica”. A peça era uma imitação em miniatura do lodoicea, o maior coco do mundo, que só cresce nas Seychelles. O Governo protege e regula estes frutos gigantes, que vende a centenas de dólares. Eu precisaria de mais alguns milhares de rupias para comprar a coisa verdadeira, para além de um saco de bowling para o transportar até casa.
Os cocos são um tema recorrente na ilha. O nosso prato tradicional, que conseguimos no restaurante Bonbon Plume em Praslin, era caril de frango com coco (dispensámos os morcegos-da-fruta).
Para a nossa visita obrigatória, andámos pela Reserva Natural Vallée de Mai (protegida pela UNESCO), um dos dois únicos locais do país onde a palmeira do coco de mer cresce. Em praias de areia branca entretive-me a chutar cocos de tamanho de bolas de râguebi, e reparei que o gelado de coco tinha lugar de destaque nas ementas.
No ferry de volta a Mage, víamos as palmeiras a encolher no horizonte até ficarem do tamanho de lápis. O céu pôs-se vermelho com pinceladas de laranja. A meio da viagem, alguns passageiros com sacos na mão correram para o exterior, para apanhar ar. Ofereci-lhes um sorriso consolador e virei o olhar para o pôr do sol e mais além – para a Índia, o nosso próximo destino.
Dias 12-14: Bombaim, Índia
População: 1250 milhões
Célebre por: templos hindus, Bollywood, praias, compras desenfreadas, trânsito ainda mais desenfreado, caril, ioga
Obrigatório ver: Porta da Índia e Grutas de Elephanta
Obrigatório comer: biryani
Lembrança: pulseiras da Colaba Causeway
Percebi que estava a fazer sérios progressos nesta viagem à volta do mundo quando comecei a reconhecer os nomes dos pilotos (olha, é novamente o piloto Patrick da Air Seychelles), deixei de calcular as diferenças horárias (programei o meu relógio para “Agora”) e já praticamente sabia de cor o número do meu passaporte (448*******). Outro sinal: no nosso próximo destino, o principal item da lista relacionada com a roupa era precisamente lavar roupa.
Antes de deixar Washington, eu e o Jabin tínhamos concordado em levar pouca coisa para não termos que despachar malas. Tínhamos esperança de que as nossas escolhas limitadas mas ponderadas fossem suficientes para os pontos extremos dos termómetros – a abordagem de vestir por camadas. Mas houve sujidade, suor e lambidelas de lémures. Tínhamos previsto lavar roupa nas Seychelles até sabermos que as instalações mais próximas ficavam noutra ilha. Quando chegámos a Bombaim, depois de um voo de quase cinco horas, estávamos ansiosos por uma máquina de lavar e secar. O Jabin estava a sobreviver com dois pares de cuecas e meias, uma T-shirt branca e um par de calções. Eu tentava impedir três vestidos lavados de serem contaminados por calções cobertos de lama encarnada e amoras, uma saia encrustada em sal do oceano Índico e por um fato-de-banho que cheirava a sulfúrio.