O indri, um dos lémures maiores, deu o pontapé de partida ao nosso passeio matinal em Andasibe. Uma família de quatro saltou-nos para a cabeça, propulsionados pelas suas patas felpudas brancas, com as suas mãos de aparência humana a chegar ao tronco oposto. A visita terminou com os lémures dançarinos – demasiado ocupados a tirar mangas-morango das árvores para poderem dar atenção ao público atento lá em baixo.
De volta ao parque de estacionamento, exausta mas exultante, voltei a ouvir os rugidos do indri. “Eles estão a dizer adeus”, diz Liva.
Na manhã seguinte, fomos nós a fazer as despedidas – com menos decibéis, claro. Adeus, funcionários amáveis do lodge Eulophiella, que rompeu com o menu pré-definido para nos preparar ravioto, uma refeição típica feita com folhas de mandioca, misturadas com carne de zebu. Adeus, Josefa, a nossa guia sempre alegre, que durante a nossa louca corrida para o aeroporto conseguiu encaixar o nosso pedido para comprarmos baunilha do Madagáscar, a recordação que tínhamos escolhido. Adeus, Raymond, o motorista que conduziu pelo trânsito sinuoso de Antananarivo como um rude nova-iorquino. E um adeus especial aos lémures. Infelizmente, teremos de vos deixar para trás durante a nossa ida para as Seychelles. Afinal de contas, vocês são endémicos.
Dias 8-11: Mahe, Seychelles
População: 92.430 habitantes
Célebre por: praias, reservas naturais e parques marinos, cultura crioula, desportos aquáticos, ilhas de corais
Obrigatório ver: Reserva Nacional Vallée de Mai
Obrigatório comer: caril de frango com coco
Lembrança: artesanato em coco
Era inevitável. Vamos passar por um percalço – ou, dependendo de quem conta a história, uma chatice das grandes.
Nos três primeiros países, mantivemo-nos fiéis ao itinerário com a maior das facilidades. O nosso único atraso durou apenas uma hora, e o avião acabou por sair de Estocolmo antes da hora estimada no ecrã das partidas. A minha tensão arterial nem sequer teve hipóteses de subir.
Até que chegámos às Seychelles.
Um pouco de informação de background: planeámos sair de Mahe, a maior ilha do arquipélago leste-africano e a nossa base, com destino a Praslin, uma ilha próxima com um local classificado como património mundial pela UNESCO. O agente dos EUA dissera-nos para estarmos prontos para uma saída às 8h; um representante no Aeroporto Internacional das Seychelles avisou-nos que o motorista só chegaria às 9h. Depois de processar a mudança de horários, lancei ao Jabin uma expressão semelhante àquela que se usa quando se ganha a lotaria: uma hora extra de sono.
Na manhã da nossa excursão, estava indulgentemente na cama, olhando deleitada para as palmeiras do lado de fora da janela, quando ouvi bater na porta e uma voz estranha a dizer ao Jabin que a nossa boleia tinha chegado. Olhei para o telefone: 7h. Corri à porta. A mulher disse-me que o avião iria descolar dentro de pouco tempo, teríamos de partir AGORA.
Não quero acusar ninguém, mas pronto, é o que vou fazer: o funcionário do aeroporto deu-nos as indicações erradas. Mas o meu telemóvel também teve culpa: ainda estava com a hora de Madagáscar, uma hora mais cedo. Perdemos o voo, e o seguinte, e o ferry – uma alternativa para viajar entre as ilhas. No aeroporto deixámos os nossos nomes numa lista de espera para a partida das 11h30. Afundei-me numa cadeira de plástico, sentindo-me como um estudante delinquente chamado ao gabinete do director. O meu castigo: não houve viagem para Praslin naquele dia. (Deixámos a visita para o dia seguinte e conseguimos).