Hamburgo
Alegre, activa, jovem — três adjectivos que, de forma geral, caracterizam Hamburgo, capital verde da Europa em 2011 mas desde há muitos anos a esta parte a desenvolver um trabalho notável para melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes de acordo com um modelo mais ecológico.
Quem a conheceu, como eu a conheci, há mais de 30 anos, tem sérias dúvidas de estar exactamente na mesma cidade nos dias de hoje. Desde tempos imemoriais uma janela aberta para o mundo, beneficiando do peso do comércio marítimo, Hamburgo, como Veneza ou Amesterdão, é moldada pela água, vivendo virada para os três rios (Elbe, Alster e Bille) e insinuando-se ao longo de uma rede de estreitos canais — sem esquecer os lagos Binnenalster e Aussenalster.
Sem grande motivo para admiração, muito desse labor colocado para tornar mais agradável a vida da população tem a água como cenário privilegiado. No novo bairro de HafenCity, numa área que se estende por quase 160 hectares (poderá gerar entre 40 a 45 mil novos empregos), sofreu Hamburgo uma das suas maiores transformações, combinando em perfeita harmonia trabalho, lazer, cultura e turismo — mas, ao contrário de outras urbes, sem ignorar, em todo o processo de desenvolvimento inovador, uma ideia de sustentabilidade que se expressa nas construções (em algumas zonas nasceram edifícios para atenuar o impacto produzido pelo ruído face à proximidade de auto-estradas), nos acessos, nos espaços públicos ao ar livre e em tantos outros detalhes.
Hamburgo, com 1,7 milhões de habitantes, é um apelo constante a caminhadas, à descoberta desta modernidade mas também do seu rico passado marítimo, dessa cidade de armazéns que os locais conhecem como Speicherstadt, prédios magnificentes que se debruçam sobre as águas, reflectindo-se nelas e reflectindo um poderio económico que não hipoteca a qualidade de vida das suas gentes, a despeito de algum conservadorismo da classe alta, mais focada em recolher benefícios comerciais.
Hamburgo é também uma cidade de parques e jardins (os espaços verdes constituem 8% da área de terreno), de lugares serenos (o Alster Park e o Altona Volkspark ocupam, juntos, mais de 370 hectares), com uma eficiente rede de transportes públicos (serão poucos os que vivem a mais de 400 metros de uma estação de metro) e, em simultâneo, uma das urbes mais amigas das bicicletas em todo o país, especialmente depois de 2008 (dois anos antes, os trilhos, com uma extensão de 1700 quilómetros, estavam em muito mau estado), ano em que foi aprovada pelo senado uma nova estratégia para incrementar a utilização deste transporte. Com a criação do sistema StadtRAD Hamburg, logo em 2009, permitindo a utilização de bicicletas que estão à disposição dos locais e dos turistas em mais de uma centena de estações, calcula-se que, em conjunto (muitas delas são alugadas várias vezes ao longo do dia), percorram mais de um milhão de quilómetros por ano.
Praga
Não deixará de constituir uma surpresa, pelo menos para alguns, a presença da capital da República Checa entre as dez primeiras do estudo. Mas Praga, também bem cotada no último relatório da Mercer, tem desenvolvido um esforço notável para corresponder às exigências da população, conseguindo um não menos surpreendente 6.º lugar no indicador social, à frente de Amesterdão e Estocolmo — Lisboa surge apenas em 29.º — e o 7.º no subíndice do rendimento, uma notoriedade que se deve, essencialmente, ao elevado número de turistas que a visitam anualmente, atraídos pelo romantismo que emana da ponte Carlos ou pelos insondáveis mistérios que envolvem a vida de Kafka, esse mito literário que tanto alimenta a “capital mágica da velha Europa”, como lhe chamou André Breton.