Fugas - Viagens

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    Almeida DR/Aldeias Históricas de Portugal
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    Marialva Paulo Ricca

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De Belmonte a Castelo Novo, pelos caminhos de Portugal

 

Marialva
De olhos postos no céu

O castelo e a cidadela em ruínas hão-de brindar-nos a chegada. Para já, despedimo-nos da pequena aldeia que se desenvolveu fora das muralhas e enveredamos pelo Caminho Histórico de Marialva, um dos 51 percursos pedestres de pequena rota que serpenteiam as doze localidades que pertencem às Aldeias Históricas de Portugal (AHP), associação de desenvolvimento turístico criada em 1995.

A unir a dúzia de aldeias num traçado circular com 565 quilómetros de comprimento está a Grande Rota 22, a primeira a ser criada em Portugal, no ano 2000, expandida e remarcada em 2014. Mas desta vez ignoramos a placa que indica o longo percurso e descemos a encosta pelo antigo caminho medieval. O vale do Côa aninha-se em prados aos nossos pés, terminando na serra da Marofa. Manuel contava-nos a história de Marialva — foi povoada pelos aravos, tribo celta, posteriormente conquistada pelo romanos e depois pelos muçulmanos até integrar a coroa portuguesa no século XII — quando uma ave de rapina sobrevoa o discurso. Binóculos no céu, guia de aves aberto. À terceira tentativa chega o veredicto: é um britango, conhecido como grifo do Egipto. Uma ave protegida no Vale do Côa mas que raramente se avista em Marialva. São dezenas as espécies de pássaros que se observam nesta região beirã, entre as quais se destacam quatro famílias de aves de rapina. “A melhor forma de as distinguir é ver o formato da cauda.” Para os principiantes, Manuel desenha na terra: os grifos têm-na em forma de losango, as águias em leque, os milhafres uma cauda de peixe e os falcões um rectângulo.

É de olhos no céu que chegamos à Devesa de Marialva, no sopé do castelo, para onde a população cresceu em casas nobres junto aos campos. Continuamos por vinhas, oliveiras e amendoeiras até subirmos de volta ao castelo por trilhos entre o mato rasteiro. A fortificação foi sendo sucessivamente alterada desde o século XII, quando D. Afonso Henriques passa a primeira Carta Foral e completamente abandonada no século XVIII. “Na vila [também] já só viviam oito vizinhos [famílias]”, cita Manuel. A maioria da população mudou-se para a Devesa e o traçado medieval da cidadela chega-nos quase inalterado, embora grande parte dos edifícios se resumam a escombros de pedra. Do alto da torre da menagem, vê-se o Pelourinho, a casa da câmara, o tribunal, a cisterna, vestígios de habitações e duas capelas mais recentes.

Foi aqui que, um dia, Maria Alva Pé de Cabra decidiu terminar a própria vida, atirando-se do castelo. A lenda serve de mote ao evento que, a 22 e 23 de Julho, leva a Marialva o programa cultural “12 em rede, aldeias em festa”, que até Dezembro corre todas as localidades integradas na associação. O objectivo, conta Arménio Coelho, gestor de projecto nas AHP, é “explorar a identidade imaterial de cada aldeia” e destacar uma lenda, episódio ou personagem histórico. Contrariar a banalização das feiras medievais e o foco habitual no património monumental com um conceito diferente, de “residente temporário”. “Não queremos levar as pessoas ao passado mas trazer o passado às pessoas de hoje”, que “querem experienciar” e “conviver” com os locais.

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