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De Belmonte a Castelo Novo, pelos caminhos de Portugal

 

Castelo Mendo
O guardião do Côa

A Porta da Vila, entrada principal de Castelo Mendo, é guardada por quatro cabras. Maria Teresa gosta de deixá-las à solta — e sobre isso ouviremos, mais tarde, queixas entredentes de vizinhos. Hoje, os animais descansam em frente à muralha e é esse o primeiro quadro que teremos de Castelo Mendo. O rebanho guardador de uma aldeia histórica. Três adultos, cada um de sua cor, mais o cabrito, que se afastam para deixar entrar a carrinha do pão. Ao longo da semana, Maomé traz à montanha pão e produtos de mercearia — hortaliças, frutas, massas, arroz. O supermercado mais próximo fica a quilómetros de distância.

Houve tempos em que o cenário não podia ter sido mais oposto. Quando se olha a vista panorâmica da antiga cidadela, percebe-se que a fortificação “só podia estar aqui”. “Castelo Mendo é o guardião do Côa”, define Manuel Franco. O rio formava uma fronteira natural de norte a sul e a encosta era não só ponto privilegiado de defesa como de travessia comercial dentro do território português. Tanto que terá recebido a primeira Feira Franca do país, por foral de D. Sancho II, em 1229 (embora Trancoso — e Viseu — disputem semelhante epíteto).

Hoje viverão menos de 50 pessoas na aldeia amuralhada. “O mais novo tem cinco anos. Cerca de 85% são idosos”, contabiliza Rosa Ramos, de 40 anos, antiga presidente da Junta de Freguesia e proprietária do alojamento turístico Casa do Corro. Foi com D. Dinis que foi nomeado o primeiro alcaide do castelo, D. Mendo, daí o nome da aldeia, conta-nos Rosa quando Maria Teresa surge à porta de casa e nos convida a entrar. Sobre a mesa, há compotas, queijos e ginginha, tudo feito por ela. E pão de centeio, receita da mãe, que feito no forno moderno de casa já não sabe a infância. “Eram tão boas aquelas torradinhas”, recorda. O pão durava 15 dias “sem abolorecer ou ficar duro”.

Hoje o forno comunitário da aldeia é só para turista ver. A reconstrução foi mal feita e a chaminé estalou à primeira utilização. Mas Maria Teresa, de 63 anos, ainda se lembra de o ver funcionar. “Punham um ramo de giestas na parede para marcar lugar.” De duas em duas semanas, a mãe estendia a massa, enquanto o pai “ia buscar o feixe à cabeça” e tratava do forno. Dois carros de giesta verde davam para coser uma fornada de mais de 20 pães.

Velhas querelas políticas com a sede de concelho, Almeida, estrangulam, no entanto, o magro orçamento da freguesia, queixa-se a população. Amílcar Almeida, presidente da Junta, faz o que pode. Mas a estudar Medicina Veterinária no Porto, com regressos a Castelo Mendo todos os fins-de-semana, o jovem político de 27 anos não pode muito. O Museu do Tempo e dos Sentidos, criado no edifício onde funcionava a câmara, o tribunal e a cadeia, abre à tarde no fim-de-semana e quando Sandra Morgado, 38 anos, vê turistas a deambular pela aldeia. “Quando há, venho e pergunto se querem conhecer o museu.” O pai é o dono do único café, ela é assistente do presidente da Junta de Freguesia. “Quando me levanto, venho deixar a minha filha no autocarro, depois vou pôr as ovelhas no lameiro.” Também cuida do cemitério, do jardim da escola. O que for preciso para “representar o povo”.

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