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De Belmonte a Castelo Novo, pelos caminhos de Portugal

Por Mara Gonçalves

Para celebrar o Dia de Portugal, passeamos por dez das doze aldeias históricas da região beirã. Núcleos ancestrais de castelo no alto, com ar de presépio e vistas panorâmicas sobre a rusticidade da natureza. Mais do que passado, são histórias com gente dentro. De braços abertos para nos receber.

Belmonte
Nos passos de Álvares Cabral

O que faz um museu dedicado aos Descobrimentos portugueses numa aldeia a 125 quilómetros do mar, medida a distância em linha recta? Belmonte foi berço de Pedro Álvares Cabral, o navegador que descobriu o caminho marítimo para o Brasil em 1500. E o “filho da terra” foi “mote” suficiente para a criação do centro interpretativo À Descoberta de um Mundo Novo, em 2009, conta Manuel Franco, guia consultor nas Aldeias Históricas de Portugal. Com um grande foco no Brasil, o museu traz a Belmonte cada vez mais turistas de terras de Vera Cruz. São brasileiros os únicos turistas com quem nos cruzamos numa das salas interactivas do museu. É com uma família brasileira que nos cruzaremos pouco depois no castelo.

“Portugal está na moda mas Belmonte também recebeu um boom turístico nos últimos quatro anos, por causa do património judaico e dos Descobrimentos. Temos muitos [turistas] israelitas e brasileiros”, conta Valter Santos, 31 anos, um dos proprietários da Cabralina, loja de produtos regionais e marca da cerveja artesanal produzida com receita da casa. Valter também é “filho da terra”. E a ela, diz, “temos de voltar sempre”. Depois de seis anos a viver em Castelo Branco, regressou no final de 2014 para organizar um festival de cerveja artesanal em Belmonte. Entretanto, o Festival do Caneco tornou-se itinerante, viajou até Évora e Nazaré. Mas Valter fez finca-pé em Belmonte. “Até porque a região está a mexer”, reitera. Lançaram a marca de cerveja artesanal Cabralina  e no ano passado criaram a “primeira cerveja kosher do país”, feita à base de mel e de zimbro.

Uma das mais importantes comunidades judaicas do país continua a viver em Belmonte e a herança histórica dos judeus sefarditas tem sido bandeira turística do concelho nos últimos anos. A presidência da Rede de Judiarias de Portugal está sediada em Belmonte. As lojas com produtos kosher multiplicam-se pelo centro histórico. Tem uma sinagoga, o primeiro Museu Judaico do país, um centro de estudos. Mas hoje seguimos sobretudo no encalço do património histórico ligado a Pedro Álvares Cabral.

“O castro de Belmonte foi conquistado logo com Afonso Henriques, mas a fronteira portuguesa flutuou muito nesta zona, entre as linhas de defesa do Mondego e do Côa, por isso as fortificações nesta região foram importantes até muito tarde”, descreve Manuel. “Foi nesse contexto que veio para cá a família dos Cabrais, que se tornaram alcaides de Belmonte no século XIII.” Pedro Álvares Cabral terá nascido no edifício branco colado à muralha, hoje espaço de exposições. Não muito longe fica a Igreja de Santiago erigida pela família e, ao lado, o Panteão dos Cabrais. A ligação ao outro lado do Atlântico é inolvidável. No topo da torre de menagem, três bandeiras dançam entre os andorinhões: Belmonte, Portugal e Brasil.

 

Sortelha
Manuel e Arminda querem falar com turistas

É com as mãos enlaçadas no bracejo que Arminda mata o tempo. “Quando estou stressada venho para aqui descarregar no bracejo”, conta, enquanto vai unindo o caracol de rama verde com uma agulha. Arminda Esteves, 68 anos, é a única habitante de Sortelha que ainda faz o artesanato típico da região com o bracejo, uma fibra vegetal autóctone. Ainda esta manhã esteve lá em baixo, nos campos, a apanhar sacas de fios verdes delicados.

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