É à sombra das ruas estreitas que Arnaldo Oliveira, 74 anos, passa parte dos dois meses de férias em Monsanto. Nasceu na aldeia, mas mudou-se cedo para Sintra. “Isto aqui é um atraso de vida” para dar corda a todos os dias do ano, lamenta, embora reconheça estar “muito melhor”, com “melhores condições de vida”. Para Margarida, 67 anos, as férias na terra do marido são sobretudo “um sossego”. “Dá para ir dar um passeio, ir ao café. Lá já dá medo de andar sozinha”, conta. Quando reabilitaram a pequena casa no centro histórico tiveram de partir o rochedo que entrava cozinha adentro e subir o quarto em mezanino. Mostra-nos os cantos à casa onde nada falta, mas que no Verão aquece além do suportável. E o casal regressa a Sintra.
Helena Agnelo, 39 anos, e João Roque, 45, fizeram o percurso contrário. Tinham “o sonho antigo de sair da cidade” de Sacavém e Monsanto foi o destino escolhido. “O nosso primeiro fim-de-semana como namorados foi aqui”, recordam. Quando foram rever as fotografias da viagem, perceberam que muitas foram tiradas a placas “vende-se” nos edifícios. “Já fazia parte de nós sem nos apercebermos”, contam à mesa da Taverna Lusitana, que abriram em 2009. Afonso, de cinco anos, já nasceu em Monsanto. “É uma das quatro crianças que vivem aqui em cima.” As querelas com a vizinhança, por se manifestarem contra a localização da antena de telecomunicações instalada em 2013 próxima do castelo, tem-lhes dado alguns dissabores, confessam. Mas não desistem. “A aldeia está cada vez melhor, o negócio corre bem e estamos bem aqui”. Depois da pizzaria Fornum do Viriato, aberta em 2012, preparam-se para novos investimentos na área do turismo, ainda em segredo.
É que “isto bate gente de todo o lado”, atiraria pouco depois Maria Helena Pinheiro, 75 anos, sentada na escadaria de uma das ruelas principais. Pousa a marafona que está a terminar de vestir para nos oferecer uma fatia de bolo. Cada boneca típica de Monsanto demora “mais de duas horas a fazer” e ela vende-as por 5€. “Para a América, para a China”. Há marafonas por tudo o que é canto do mundo, compradas pelos turistas que chegam em autocarros e autocarros. A vida dura da infância em Monsanto não lhe deixa saudades. “Não havia água, luz, casa de banho. Conheci muita fome, pobres a pedir à nossa porta”, recorda. Desde que regressou à aldeia, há uns 20 anos, é com as bonecas e no convívio com outras artesãs que se distrai. “De manhã, avio a vida em casa, de tarde venho para aqui.”
Castelo Novo
A memória de José Saramago
Para Francisco Afonso, há duas épocas do ano ideais para visitar Castelo Novo e esta não é uma delas. A vista do castelo não deixa de ter o seu encanto, mas é mais bonita quando os pomares de pêssegos no vale se cobrem de flores cor-de-rosa na Primavera ou de ocres pelo Outono. Francisco e a mulher, Ana Almeida, vivem na Covilhã mas há 13 anos decidiram comprar uma segunda casa na região. Castelo Novo foi a última aldeia onde procuraram mas foi amor à primeira vista. “A exposição dela em relação à serra, a luz, foi mágico”, recorda Ana, professora de química na Universidade da Beira Interior. “Havia vida, roupa a secar nos estendais.”