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Dois repórteres numa viagem de 34.798 quilómetros

Por Andrea Sachs

Partiram dos Estados Unidos, mas a verdadeira aventura começou em Reiquejavique. Acabaram em Hong Kong, e pelo meio houve Suécia, Madagáscar, Índia, Singapura. Só descansaram ao 21.º dia – vários copos de água gelada selaram o fim da viagem.

Se ao menos tivéssemos 80 dias. Infelizmente, não faremos as generosas férias de Júlio Verne, mas temos quase três semanas – tempo mais que suficiente para dar uma voltinha rápida pelo mundo. Na nossa circum-navegação vamos pousar em cinco continentes, um Estado-ilha e uma antiga colónia britânica que agora é administrada pela China. Os segmentos por terra irão de umas breves 24 horas (Reiquiavique, na Islândia) a três langorosos dias (Seychelles). Para cada destino, embarcaremos numa minicaça ao tesouro: temos de visitar um ex-líbris, comer um prato local e arranjar uma lembrança. Ao longo de 20 dias, completaremos milhares de quilómetros e vários fuso-horários em quatro continentes. E ao 21.º dia descansaremos.

Dia 1: Reiquejavique, Islândia

População: 331.918
Célebre por: banheiras naturais, vikings, peixe fermentado, Bjork e um gosto por elfos
Obrigatório ver: lagoa Azul
Obrigatório comer: hakari (tubarão fermentado) ou cabeça de carneiro na azafamada cafetaria BSI na estação de autocarros
Lembrança: chapéu de lã islandês

Nenhum de nós usou a palavra d… Só tínhamos 24 horas em Reiquejavique; podíamos dormir no voo para Estocolmo. O Jabin Botsford (repórter fotográfico) e eu deslocámo-nos pela ilha como o vento islandês, que parecia empurrar este país do Norte para mais perto da Gronelândia.

Cerca de uma hora depois de chegarmos de um voo de quase seis horas, estávamos à beira do Círculo Dourado, uma zona 300 quilómetros com elementos geológicos que borbulham, cospem e pulverizam. O circuito permite a visitantes rústicos como nós uma alternativa à [estrada periférica] Ring Road, de 1400 quilómetros, que exigiria pelo menos uma semana da nossa devoção.

Com os olhos turvos e o céu limpo, dirigimo-nos para a primeira atracção do caminho, o Kerio, um lago numa cratera vulcânica que, com os seus três mil anos, é ainda um bebé.

A descida em gravilha até à caldeira dava a sensação de estarmos a andar com grãos de café debaixo dos pés. Caí mais vezes durante essa curta caminhada do que durante os dois últimos invernos. Felizmente que a aterragem era suave. E eu não era a única na multidão a tropeçar. Um pai e uma mãe criaram um comboio humano com a filha e o filho pequeno – que acabou por ser derrotado pela gravidade. Felizmente, o deslizamento parou mesmo em cima da berma; um passo em falso para a água gelada e tornávamo-nos instantaneamente um gelado de pau.

No Gullfoss, ou “Cascata Dourada”, a água do rio Hvita caía libertando flocos de espuma branca que pairavam no ar. Ao longe, as montanhas carregavam estolas de neve sobre os ombros. O vento começava a soprar mais forte e obrigava-me a resistir a estas mãos invisíveis que me empurravam. A força aumentava ainda mais nas termas de Geysir, um local a borbulhar de actividade geotermal.

No pequeno passeio para Strokkur, que a cada quatro a oito minutos liberta vapor, o meu lenço voava como um papagaio de papel e as minhas luvas foram parar a um ribeiro próximo de uma fonte de água a ferver. Eu sabia que tinha de agir rapidamente, não podia esperar até chegar às lojas da capital. Entrei numa loja no outro lado da rua e, poucos minutos depois, voltei para o campo com a minha nova armadura, um chapéu de lã islandês. Às vezes um souvenir é mais do que uma recordação; é uma ferramenta de sobrevivência.

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