Entre Ouarzazate e M’hamid fica Agdz e o vale do Drâa — que dota a paisagem de uma espinha verde, feita de palmeiras, que se estende por dezenas de quilómetros —, ladeado por terrenos inóspitos. É nas suas imediações que fica Zagora e, alguns quilómetros depois, Tamegroute, terra de ceramistas, que produzem aqui a famosa louça verde, característica da região. É também aqui, num edifício simples de estantes metálicas, que se podem espreitar verdadeiras raridades na biblioteca islâmica que congrega quatro mil volumes de obras tão antigas como o século XIII e que vão da astrologia à medicina e da poesia ao Corão.
Das montanhas aos kasbah e do deserto aos óasis, a paisagem só não muda nos burros, que parecem estar em todo o lado, carregando homens, mulheres e crianças. Nos homens de vestes compridas e nas mulheres que escondem o rosto, fugindo de uma atenção indesejada. Se, já agora, se deparar com o que aparenta ser um antigo posto de gasolina transplantado do Oeste norte-americano, não se admire, isso também é Marrocos. É um cenário de um filme, deixado para trás para diversão dos turistas e um meio de os locais conseguirem alguns trocos, mas não deixa de ser Marrocos.
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Como ir
Voamos com a Royal Air Maroc, de Lisboa para Casablanca, e daqui para Marraquexe. O resto do percurso foi feito por terra, mas havia também a possibilidade de se fazer a ligação entre Casablanca e Ouarzazate, encurtando significativamente o tempo de viagem (mas perdendo o atravessamento das montanhas Atlas). O tempo de viagem entre Lisboa e Casablanca é de cerca de uma hora (não há diferença horária) e o preço (ida e volta) ronda os 280 euros. A TAP também faz esta ligação, por preços similares.
Onde Dormir
Em M’hamid El Ghizlane ficámos no hotel Kasbah Azalay, com espaços amplos e uma bela piscina interior de águas geladas. Os quartos são grandes, com chuveiros em espaços cobertos de azulejos (verifique se a água aquece e, caso não aconteça, avise a recepção para resolverem o assunto) e acorda-se ao som dos pássaros que andam pelas palmeiras em redor. Os preços rondam os 90 euros, em quarto duplo.
A experiência de dormir num bivouac pode ser comprada no próprio hotel ou nos agentes de turismo, em Marraquexe, Ouarzazate ou mesmo em M’hamid. Procure informar-se, porque a qualidade do serviço pode variar. Uma noite no deserto, junto às grandes dunas de Chegaga, pode custar-lhe entre 110 a 140 euros por pessoa.
Um pouco por todo o país, as antigas mansões que pertenciam às famílias mais endinheiradas de Marrocos (fossem familiares reais ou grandes comerciantes) estão a ser transformadas em hotéis. Experimentámos o Hotel Riad de Ouarzazarte e não nos desiludimos. As áreas comuns, cobertas de azulejo, são fabulosas e o sumo de laranja natural absolutamente divinal.
Ainda em Ouarzazarte, a cinco quilómetros do centro, não deixe de passar pelo kasbah Dar Daïf, um emaranhado de salas, quartos e escadas, com pátios interiores e plantas por todo o lado. É um hotel, restaurante e ponto de partida para percursos por montanhas, desertos e praias. Tudo graças ao casal Zineb (marroquina) e Jean-Pierre (francês), que restauraram o edifício e o transformaram num exemplo premiado do turismo sustentável.