Fugas - Viagens

  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos
  • Lara Jacinto/nFactos

Continuação: página 9 de 11

O deserto não são só dunas

Ele deve estar já a tratar do festival do próximo ano, que há-de regressar em Março, como todos os anos. Quer mais estrangeiros ali, a visitar o Sul, a conhecer e, se possível, a reavivar a cultura nómada. Porque ser nómada, diz, “é um direito”. Se ainda existe quem o queira assumir por inteiro no deserto marroquino é o que falta saber.


O Atlas não é para meninos

Os planos, lá diz o ditado, são feitos para serem quebrados e, às vezes, quando isso acontece, o resultado é uma bela surpresa. O nosso plano, o plano de viagem, neste caso, dizia que iríamos de avião de Lisboa a Casablanca e daqui até Ouarzazate. Mas, dois dias antes do voo, descobrimos que já não será assim. De Casablanca, afinal, voaremos até Marraquexe e, daqui, o caminho será feito por terra, atravessando toda a zona central do país, até M’hamid, no Sul.

Isto significa que iremos cruzar as montanhas do Atlas que, nesta altura do ano, têm cumes longínquos cobertos de neve. Até chegarmos lá cima, onde o vento corta e a paisagem é completamente lunar, de pedra negra, solta da rocha, a atapetar tudo, cruzamos planícies de terra vermelha, colinas verdes onde nos dizem que se pratica caça à lebre e campos cobertos de cactos e oliveiras.

As estradas que serpenteiam montanha acima e abaixo não são para estômagos fracos. Mesmo quem não enjoa em viagens de carro tem boas probabilidades de enjoar aqui, onde as curvas parecem não ter fim. O cenário cobre-se de verdadeiros desfiladeiros, montanhas rochosas, aldeias que se confundem na paisagem porque a cor das suas casas é igual à cor da terra.

As montanhas parecem não ter fim, a estrada parece que nunca mais terá uma recta, os vendedores de rosas do deserto aparecem em sítios inesperados, abandonados, longe de tudo. Depois, chegamos a Agdz, trocamos a paisagem lunar dos altos cumes pelas planícies poeirentas a anunciar o deserto e deliciamo-nos com os pratos abundantes que nos servem no kasbah Caid Ali. A construção fortificada, que ainda pertence à família dos irmãos Mbarek e Azis Attelkatd, anda a ser recuperada há mais de dez anos, ao ritmo de um mês de trabalho por ano. Os kasbah encontram-se um pouco por todo o lado em Marrocos, em qualquer lugar onde se realizassem importantes trocas comerciais. São construções fortificadas, que pertenciam à família dominante, e que costumam ter, no interior das suas muralhas, os ksar, espécie de aldeia onde viviam as pessoas que procuravam a protecção dos donos do kasbah.

Um dos mais famosos, e classificado pela UNESCO como Património da Humanidade desde 2009, é o kasbah de Ait-Ben-Haddou, nas imediações de Ouarzazate, cuja recuperação se deve em grande medida à indústria cinematográfica. Isto porque Ouarzazate é a capital africana do cinema, a Hollywood de Marrocos, e Ait Benhadou o cenário de filmes como Gladiador, A Jóia do Nilo, Indiana Jones e inúmeras produções relacionadas com a Bíblia.

Com o aproximar do pôr do sol, Ait-Ben-Haddou fica cor-de-rosa e a porta de Mohammed Jamal Edding, descendente dos antigos donos do kasbah, abre-se para oferecer o sempre bem-vindo chá, acompanhado de amêndoas. Há uma cegonha que regressa ao ninho feito sobre uma das torres da fortificação e o chamamento para a oração invade o ar. Podia ser uma imagem de um filme. Perfeito.

--%>