Fugas - Viagens

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O deserto não são só dunas

Por Patrícia Carvalho

M’hamid é o fim da linha: a partir daqui não há estrada, só a imensidão do deserto. À boleia do Festival Internacional Nómada, que lá se realiza há dez anos, a Fugas descobriu que as paisagens do Sara são tudo menos monótonas e que o chá no deserto tem um sabor inconfundível.

Se o convidarem para ir assistir ao pôr do sol no deserto, não pense duas vezes, aceite. Mas garanta que o convite se estende pela noite dentro e lhe permite assistir ao nascer do sol no deserto. Porque se o aproximar da noite é um mergulho em tons difusos e quentes, a chegada do dia é a altura em que as dunas se tornam verdadeiramente belas. A subida do sol traz consigo a nitidez das cores, o contraste vigoroso das sombras ao longo das encostas altas feitas de areia e uma acalmia capaz de cristalizar o momento, como se o tempo parasse de facto. Em Marrocos, o deserto não é apenas dunas altas de areia fina, mas elas também lá estão. E são imperdíveis.

No mapa que Réda, do Turismo de Marrocos, nos entregou no início da viagem, M’hamid El Ghizlane aparece como o último ponto na longa estrada, marcada a vermelho vivo, que sai de Marraquexe, atravessa as montanhas Atlas, cruza o Vale do Drâa e acaba, por falta de alternativas, junto ao deserto. M’hamid é o fim da linha — depois dela, só há a imensidão do deserto, até à fronteira com a Argélia.

Aliás, para sermos rigorosos, M’hamid não é o último ponto antes do deserto. Ela já é o próprio deserto e poderá ser completamente tomada por ele se não tem cuidado. Basta abandonar a rua principal, povoada por velhos encostadas às paredes de casas baixas e por burros à espera de serem guiados para o seu próximo trajecto, para se sentir o poder desconcertante da areia. Uma zona que já funcionou como mercado é agora um conjunto de ruínas semi-enterradas.

Naquele local, a areia já é senhora de tudo. Apoia-se às paredes, infiltra-se nos interiores sem o resguardo de portas e janelas, espraia-se até aos telhados baixos e planos. “Aqui funcionava o antigo mercado. Estas casas eram lojas, mas as pessoas foram morrendo ou partiram e todo o espaço ficou ao abandono. Quem não tinha loja podia vender nesta zona”, explica o jovem Ibrahim, que ainda há pouco nos ensinava a colocar um turbante, apontando para uma espécie de praça tomada pelo deserto, junto aos edifícios abandonados.

Olha-se para aquele espaço e pensa-se que M’hamid não tem hipótese na luta contra o deserto. A sua única salvação será ir-se deslocando, aos poucos, para longe dos ventos que trazem as poeiras do deserto. É verdade que ela já anda por ali há séculos, sendo a última paragem antes do deserto para as caravanas comerciais que o atravessavam. Mas também é verdade que a parte velha da cidade fica a três quilómetros desta parte “nova” (mesmo assim, entre aspas, porque nova não é adjectivo que assente bem ao conjunto de casas com ar gasto e da mesma cor ocre do resto da paisagem), já prestes a ceder às areias, onde estão instalados os talhos, cafés, lojas e agências de turismo da comunidade rural.


Dromedários no horizonte

A menos que se venha a M’hamid para tentar perceber melhor como viviam os nómadas (diz-se que eles ainda andam por ali e até há um festival a prová-lo), o mais certo é que se venha dormir a M’hamid antes de partir para o deserto. O que, como já se viu, é tão fácil como dar um passo para o lado.

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