Fugas - Viagens

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O deserto não são só dunas

Há quem diga que este mergulho no deserto pode ser desconfortável. Que há quem não se sinta bem com a imensidão da paisagem e peça para voltar para trás ainda antes de chegar às grandes dunas. Nada disso nos passa pela cabeça. Com a respiração ofegante pelo esforço de subir as altas dunas, e a pensar como raio o rapaz de vestes longas já vai uns bons 300 metros à nossa frente, trepando por ali acima, como se não houvesse amanhã, só queremos conseguir subir mais um pouco para poder apreciar o pôr do sol, agora que o vento amainou.

O rapaz encaminha-se para o topo da duna mais alta nas proximidades, depois de uma subida e descida extenuante de várias outras, e senta-se, triunfante, lá em cima. O grupo vai-se aproximando, um após outro, ocupando o seu lugar de honra sobre um verdadeiro mar de colinas de areia, onde o sol se vai escondendo. Das marcas das pegadas de quem passa, saltam besouros azuis-turquesa, que correm, em busca de novo esconderijo, sob a superfície.

Lá em cima, só queríamos que todas as vozes se calassem. Que os cliques das máquinas fotográficas se silenciassem. Para que o ruído do vento nos nossos ouvidos fosse tudo que ouvíssemos, enquanto o céu se acinzenta e o sol desaparece, finalmente, atrás da última duna, lá ao longe.


Um chá no deserto

Só ao descermos da nossa varanda natural sob o pôr do sol é que temos tempo para apreciar o acampamento em que iremos passar a noite, o nosso bivouac. Está organizado num rectângulo, com todas as tendas voltadas para o centro. A areia quase desaparece debaixo dos tapetes que nos permitem esquecer sandálias e sapatilhas e, no interior das tendas, assim que escurece, há luz eléctrica fornecida por um gerador. Fora do quadrado, foram construídas casas-de-banho com sanitas e um chuveiro e há uma cozinha (com dois painéis solares ao lado), de onde saem sucessivos pratos de comer e chorar por mais. A sala de jantar é, claro, numa tenda, a maior do acampamento.

É ali que nos sentamos a saborear o sempre omnipresente chá, acompanhado de amendoins e bolachas. Deixamo-nos ficar, esgotados e esmagados, até o céu escurecer em definitivo, enchendo-se de milhões de estrelas. É impossível resistir a este espectáculo. No largo artificial criado pelo bivouac escolhemos um canto vazio nos tapetes e deitamo-nos, de olhos bem abertos, voltados para as estrelas. As vozes que se ouvem no acampamento surgem como que decalcadas do resto da paisagem, imersa num silêncio total. Já nem o vento se ouve. O deserto não angustia, encanta.

Passam-se minutos ou horas, a noite pede um casaco e o corpo pede comida. Na tenda, vindas da cozinha, surgem cestos de pão achatado, travessas de saladas coloridas, tajines de carne, cuscuz e, no exacto momento em que sabemos que não vamos conseguir engolir mais nada, eis que entra um cordeiro assado, a que só falta a cabeça. O jantar acaba com fruta mergulhada em iogurte e no sempre bem-vindo chá.

No exterior, prepara-se já uma fogueira, que há-de alumiar um pouco a noite. Não o suficiente para deixar ver os músicos que, sentados sobre os tapetes, vão encher de música berbere, durante alguns minutos, o silêncio em volta. Os sons das vozes masculinas, que repetem, num crescendo, palavras incompreensíveis, animadas por palmas e instrumentos desconhecidos, envolvem a atmosfera num véu de mistério. Todos os ocupantes do bivouac estão espalhados pelo chão, sobre os tapetes, aparentemente indiferentes à areia e a tudo o que não esteja concentrado naquele quadrado no meio do deserto.

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