No exterior, poucos passos bastam para percorrer alguns dos cenários mais famosos da cidade. O grande adro junto à catedral é o acesso para a antiga residência imperial e dos bispos (o Old Court) — que no Verão se enche de gente para assistir a espectáculos de teatro e de música — e para os edifícios dos finais do século XVII, inícios do século XVIII, conhecidos como Nova Residência. É aqui que está instalado um dos museus mais conhecidos da cidade, com as salas repletas de mobiliário do século XVII e XVIII e frescos a decorar as galerias. É também aqui que se encontra o Jardim das Rosas, um espaço com dezenas de variedades desta flor, que tornam o espaço numa amálgama colorida nos meses de Verão.
A entrada no jardim é gratuita e dali pode ver a cidade de um ponto privilegiado. Tanto aquela que se estende aos pés da colina como aquela que fica ainda mais alta, com o antigo mosteiro beneditino de São Miguel, do século XII, a dominar o cenário.
Pequena Veneza
É na colina abaixo de São Miguel que Bamberg está a tentar recuperar uma das tradições que a industrialização e o crescimento das cervejeiras fizeram desaparecer — a produção de vinho. A produção já deu frutos e o vinho branco e fresco, engarrafado nas tradicionais garrafas bojudas da Francónia, não é nada mau. Hoje, Bamberg é uma cidade industrial (a Bosch tem uma fábrica ali, que emprega mais de oito mil pessoas) e com uma grande produção de cerveja (há nove empresas a produzir cervejas só no centro da cidade), mas a zona à direita do rio ainda é conhecida como a Cidade dos Agricultores e também aí há a tentativa de reavivar velhas tradições.
Carla pega num pequeno galho de madeira e dá-nos a cheirar. “Sabem o que é isto?” Ninguém adivinha, o galho parece apenas isso mesmo — um pauzinho de madeira sem significado especial. Afinal, revela-nos, é um pedaço de alcaçuz. “O alcaçuz era o produto mais produzido na cidade, muito usado para fazer xarope, e vinham pessoas de todo o lado comprá-lo. Mas, no último século, a sua produção quase desapareceu e estão agora a tentar reintroduzi-la”, explica.
Os produtores agrícolas ainda se reúnem, de segunda-feira a sábado, num mercado a céu aberto na Maxplatz( junto ao edifício da actual câmara municipal, na Cidade Ilha), que se estende até à Fonte do Neptuno, em frente à igreja de São Martinho. Mas os verdadeiros apreciadores desta parte da história de Bamberg devem dirigir-se à Cidade dos Agricultores e visitar o Museu dos Agricultores e dos Produtores de Vinho, numa rua sossegada, não muito longe da estação ferroviária.
Nós continuamos pela Cidade nas Colinas. Espreitamos o local da antiga sinagoga, convertida em capela católica no século XV, na Rua dos Judeus, e vemos ao longe o único edifício “puramente gótico” da cidade, a Obere Pfarre, ou Paróquia de Cima, que está a ser remodelada e, por isso, se encontra fechada ao público. A igreja tem uma torre que serviu, até 1928, como ponto de vigia. “O vigilante morava lá em cima, na torre, e tudo o que entrava ali ou saía era por meio de baldes, suspensos em cordas. Diz-se que um dos vigilantes ficou tão gordo que, quando morreu, não passava na porta para as escadas, e teve de ser retirado também amarrado a cordas, pelo exterior”, diz Carla.