Diz-se que Eiffel começou por não se mostrar muito entusiasmado com o desenho que lhe tinha sido apresentado pelos seus engenheiros Émile Nouguier (1840-1898) e Maurice Koechlin (1856-1946, que substituíra Théophile Seyrig na empresa). Mas, apenas três meses depois, o empresário decide registar a patente do projecto, que entretanto tinha sido melhorado com a participação do arquitecto Stephen Sauvestre (1847-1919). No final de 1884, Eiffel negoceia com os seus projectistas ficar com a exclusividade dos direitos da torre. Uma decisão que, como se verá com o que veio a seguir, confirma o sentido do negócio deste empresário e construtor, que sempre foi mais um gestor do que propriamente um criador.
Exemplo disso foi a forma como Eiffel decidiu assumir grande parte do custo da construção da torre, que viria a chegar aos 7,5 milhões de francos (equivalentes, hoje, a cerca de 75 milhões de euros), assegurando, em contrapartida, os direitos da sua exploração, não só durante a Exposição Universal mas também nas duas décadas seguintes.
“No pensamento de Eiffel, esta obra colossal deveria constituir uma brilhante manifestação do poder industrial do nosso país, atestar os imensos progressos registados na arte das construções metálicas, celebrar o impulso extraordinário do génio civil no decorrer deste século, atrair numerosos visitantes e contribuir largamente para o sucesso dos grandes causas pacíficas organizadas para o centenário de 1789”, escreveu o engenheiro Alfred Picard no relatório oficial que fez da Exposição de 1889, citado pelo guia da Torre Eiffel publicado pela Éditions du Patrimoine.
Dois anos, dois meses
E esse projecto foi claramente conseguido. Em primeiro lugar, através de uma gestão rigorosa da construção, que demorou apenas dois anos, dois meses e cinco dias (de 26 de Janeiro de 1887 a 31 de Março de 1889), tendo envolvido 150 operários (210 nas últimas semanas), e sem que nenhum acidente mortal tenha ocorrido.
Durante esse tempo, para além da construção, Eiffel teve de gerir uma greve de cinco dias no Verão de 1888. Mas teve, antes disso, de enfrentar uma intensa campanha de contestação vinda de sectores da opinião pública que viam na torre um projecto tão monstruoso quanto inútil.
Logo em Fevereiro desse ano, um conjunto de 47 artistas (que incluía os escritores Guy de Maupassant e Sully Prudhomme — que se tornaria, em 1901, no primeiro Nobel da Literatura —, o compositor Charles Gounod e o pintor León Bonnat) subscreveram no diário Le Temps um manifesto contra a construção da torre, que classificaram como um projecto “vertiginosamente ridículo”, mais parecendo “uma chaminé negra de fábrica”. “Nós, escritores, pintores, escultores, arquitectos, amadores apaixonados pela beleza até agora intacta de Paris, vimos protestar com todas as nossas forças, com toda a nossa indignação, em nome de um gosto francês desprezado, em nome da arte e da história francesas assim ameaçadas, contra a edificação, em pleno coração da nossa capital, da inútil e monstruosa Torre Eiffel”, dizia o texto, que se referia depreciativamente ao empresário como “um construtor de máquinas”, e apregoava que a torre seria “a desonra de Paris”.