Eiffel respondeu, no mesmo jornal, com uma argumentação essencialmente técnica, mas defendendo também ser o carácter “colossal” do projecto que “exerce um charme próprio, ao qual as teorias da arte não são aplicáveis”. E deu como exemplo a perenidade das pirâmides do Egipto, que, mais do que pela estética, impressionam pela grandeza e esforço patentes na sua construção.
Na verdade, Eiffel não precisou de esperar pela posteridade para ver reconhecida a atractividade e o sucesso da sua torre. A inauguração oficial da Exposição Universal, a 5 de Maio de 1889, e a abertura da torre ao público alguns dias depois, motivaram uma corrida ao novo monumento, que, durante a exposição (até 31 de Outubro), resultou em quase dois milhões de visitantes, dos 32 milhões registados no final do evento (número que duplicou o dos visitantes da Exposição de 1878).
Apesar desse sucesso, a verdade é que a Torre Eiffel tinha o destino marcado, e data de demolição inclusivamente agendada para 1910, o primeiro ano em que os direitos de exploração já não pertenceriam ao construtor e empresário.
Mas logo em 1900, com nova Exposição Universal em Paris, e mesmo que o local do evento se tenha distendido — nesse ano e nas feiras seguintes de 1925 (Artes Decorativas e Industriais), 1931 (Exposição Colonial Internacional, realizada na parte leste da cidade, em volta do lago Daumesnil e do bosque de Vincennes) e 1937 (Artes e Técnicas na Vida Moderna, de regresso ao Sena e ao Trocadéro) —, a Torre Eiffel manteve-se sempre como um ícone maior da cidade.
Como vimos, a descoberta da rádio — a primeira emissão em França aconteceu em 1898, precisamente da torre para o Panteão de Paris — e a intervenção do general Ferrié viriam a ser decisivas para a sua sobrevivência. E Eiffel soube reverter isso em favor da sua obra, tendo sido também pioneiro no aproveitamento das suas potencialidades para usos e estudos metereológicos. Acabaria por conseguir mesmo manter a concessão da gestão na sua família até… 1979, ano em que a Câmara de Paris assumiu a propriedade do torre, entretanto classificada como Monumento Histórico (1964).
Com o tempo, a Torre Eiffel foi-se afirmando como algo que valia por si mesmo, na sua inutilidade, independentemente dos usos que iam sendo feitos dela: experiências científicas, utilização militar, painel de publicidade, cenário cinematográfico (lembram-se de Grace Jones a lançar-se dela de pára-quedas para escapar ao Agente 007/Roger Moore em Alvo em Movimento, de 1985?...), local de festejos nacionais… “Hoje – diz Hermano Sanches-Ruivo –, ninguém imagina o fogo-de-artifício do 14 de Julho [Festa Nacional em França] que não seja na Torre Eiffel”…
“A importância da Torre Eiffel para a história da engenharia e da arquitectura é mais simbólica do que técnica”, nota Pedro Bandeira. O arquitecto lembra que, “do ponto de vista estrutural, se trata de um projecto arrojado pela sua altura, mas não necessariamente inovador”, citando, por exemplo, projectos anteriores da casa Eiffel, como a Ponte de D. Maria Pia, no Porto, que “já exibiam toda a potencialidade de uma estrutura de ferro treliçada”. Do mesmo modo, e “do ponto de vista arquitectónico, o Crystal Palace em Londres — precisamente construído para a I Exposição Universal, em 1851 — também se antecipou na exibição de uma arquitectura do ferro”, acrescenta.