Miguel Magalhães, adjunto do director do Centro Gulbenkian em Paris, diz que “Portugal continua na moda em França”, e que isso se observa na atenção com que os parisienses seguem a programação da instituição. “Os estereótipos estão a ser ultrapassados. E nota-se o fascínio da terceira geração pelas suas origens”, acrescenta Magalhães, citando, como exemplo, o êxito da publicação de BD Portugal, de Cyril Pedrosa, ou da produção de filmes como As Ondas de Abril, sobre o 25 de Abril de 1974.
Mas esta realidade “portuguesa” que presentemente se vive em Paris, se é um fruto directo do fenómeno da imigração registada a partir dos anos 1960, é também resultado de uma narrativa mais longa, e que se inscreve na própria história da Europa, desde o século dos Descobrimentos. É este o tema do livro Les Portugais à Paris, de Agnès Pellerin (edição Michel Chandeigne, 2009), que faz um levantamento exaustivo da presença dos portugueses na capital francesa através dos tempos.
É este trabalho que serve de base ao roteiro que aqui propomos na descoberta das marcas portuguesas em Paris, e que têm uma expressão física na cidade.
Instituições
Embaixada
3, Rue de Noisiel (16.º Bairro)
Consulado
6, Rue Georges Berger (17.º Bairro)
São os lugares da representação oficial e diplomática do país e, como tal, seguem a regra destas instituições, sendo instaladas em zonas residenciais e de prestígio, de preferência em edifícios com patine histórica. Situados ambos a noroeste do Sena, o edifício mais antigo é o da Embaixada, desenho do arquitecto Louis-Marie Parent, que remonta ao início do século XX. Foi adquirido pelo Estado português em 1936, sofreu o impacto da Guerra e foi restaurado em 1945/6 pelo arquitecto Raul Lino.
O Consulado está instalado, desde 1999, em dois prédios geminados na Rua Georges Berger (engenheiro que foi o comissário-geral da Exposição Universal de Paris em 1899). O mais antigo (n.º 6) vem do tempo de Haussmann, o barão urbanista que foi responsável pela “reconstrução” de Paris no terceiro quartel do século XIX. O n.º 8 é um típico edifício arte nova do início do século XX.
Uma terceira instituição oficial é o Instituto Camões — fica no n.º 26, Rue Raffet, também no 16.º Bairro.
Centro Calouste Gulbenkian
39, Bd. de la Tour-Maubourg (7.º Bairro)
Em Outubro de 2011, o Centro Calouste Gulbenkian em Paris mudou de casa. Passou do palacete (hôtel particulier) que foi a moradia do empresário e coleccionador arménio (51, Av. Iena, no 16.º Bairro, junto ao Arco do Triunfo) para um edifício de escritórios junto à Praça dos Inválidos, a sul do Sena, que foi adaptado para o efeito pela arquitecta Teresa Nunes da Ponte (a mesma que recuperou o Grande Auditório da Gulbenkian em Lisboa). Mas trouxe consigo o lustre que agora decora a escadaria principal do novo edifício. E, claro, todo o património, e o caderno de encargos, que continua a fazer da Gulbenkian uma embaixada privilegiada da educação, ciência e cultura portuguesas em França.
A Gulbenkian em Paris possui a maior biblioteca de língua portuguesa fora de Portugal e do Brasil, com cerca de 90 mil volumes. Este acervo é a principal atracção do Centro. Mas as conferências e as exposições são também muito procuradas, “curiosamente, as primeiras mais pelos portugueses, brasileiros e africanos de língua portuguesa; as exposições, mais pelos franceses”, explica Miguel Magalhães, adjunto da direcção e responsável pela relação com as várias comunidades lusas. “Não podemos falar apenas de uma comunidade portuguesa, porque há várias, isto não é uma massa uniforme”, nota.