Há lugares assim, cujo nome denuncia logo a… portugalidade. A Academia do Bacalhau é um deles. É apenas um número de porta — e certamente uma sala — nos Champs-Élysées, à distância de apenas cem números do hotel de Jacinto de A Cidade a as Serras. Lugar de encontro dos imigrantes lusos em volta de um prato de bacalhau, e tudo o que isso traz de memórias da terra-mãe. A academia parisiense foi fundada em 1998, três décadas após a primeira instituição do género, que surgiu em Joanesburgo, África do Sul, por iniciativa do jornalista e repórter do jornal portuense O Primeiro de Janeiro, Manuel Dias. A delegação de Paris segue os “estatutos” fundacionais: os “compadres” devem comer bem, conviver e abster-se de dizer palavrões, má-conduta e discussões de carácter político ou religioso… Todos os anos, as mais de meia centena de academias existentes em todo o mundo reúnem-se num congresso internacional, que em 2010 aconteceu em Paris.
Casa do Benfica
14, Av. General Humbert (15.º Bairro)
Outro lugar cujo “encarnado” das paredes denuncia logo a origem é… a Casa do Benfica. É um rés-do-chão e cave numa via no sul da cidade, a poucos metros da associação Cap Magellan, e que foi inaugurada a 13 de Abril de 2013, na presença do presidente do clube, Luís Filipe Vieira. O café e auditório profusamente decorados com fotografias dos craques da bola, bandeiras e galhardetes depressa ficam lotados quando há jogos com transmissão televisiva. O presidente da casa, Manuel dos Santos, empresário de eventos desportivos, diz que este é acima de tudo um lugar de convívio de imigrantes portugueses.
L’Hôtel de la Païva
25, Av. Champs Elysées (8.º Bairro)
De português, este edifício em plenos Champs-Élysées, que é um dos mais belos exemplares da arquitectura privada da segunda metade do século XIX — de resto classificado como Monumento Histórico —, só tem o nome. E, ao que diz a lenda, um nome ganho em apenas um dia. Madame La Païva era Esther-Pauline Blanche Lachmann (1819-1884), uma russa (ou polaca?) que, por via dos seus encantos e artes, se tornou numa das mais famosas cortesãs parisienses do século XIX, tendo iniciado a sua “carreira” com uma muito publicitada relação com o pianista Henri Herz.
No dia 5 de Junho de 1851, seguindo a versão mais popularizada da sua biografia, terá casado com um rico dandy português, um suposto “marquês” Albino Francisco Araújo de Paiva — ou de Paiva Araújo (1824-1872), se seguirmos a descrição que dele faz Camilo.
No que aqui nos interessa, o casamento durou apenas um dia, tendo a bela cortesã logo dispensado a companhia do português, mas guardado o apelido. E foi já como “marquesa” de Païva que Esther-Pauline mandou construir este palacete, demoradamente arquitectado por Pierre Manguin, e que a partir de 1865 se tornou lugar obrigatório de visita e vilegiatura da boa sociedade parisiense: os irmãos Goncourt, Théophile Gautier e Alexandre Dumas (que retratou Madame de Païva na peça La Femme de Claude) andaram por lá.
Em 1903, o Hôtel de la Païva tornou-se a sede do Travellers Club, e hoje é também um restaurante. O edifício pode ser visitado.