Fugas - Viagens

  • Reuters/Mariana Bazo
  • Ireneu Teixeira
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Amazónia: Mergulhar na floresta

Por Ireneu Teixeira

No coração da selva, Mamirauá, Património da Humanidade, é a primeira Reserva de Desenvolvimento Sustentável brasileira. Na Boca do Mamirauá, no âmago da maior várzea do mundo, sentimos o poder da Natureza.

Esta é a história dos rios, da terra, da Natureza e das almas que, em consonância, a habitam. Para mim, todo um universo fantasioso e aparentemente utópico. A primeira escala foi na capital do Estado do Amazonas, Manaus, que dista a apenas três graus da linha do Equador, convertendo a buliçosa urbe numa espécie de caldeirão abrasador, seja no período seco ou húmido. Estamos na época seca, a temperatura embate nos 40 graus e a humidade, asfixiante, adicionou uma película de água à minha pele que perdurará até ao regresso à casa da partida. E nem o tombar das sombras nocturnas sobre a malha urbana atenua a canícula manauara – um castigo para o corpo.

Um punhado de dias sobejou para sentir o pulso à cidade que, desordenadamente, floresceu assente em vários crimes ambientais e arquitectónicos, nas margens do caudaloso Rio Negro. Ofuscadas na imensa selva de pedra, é, ainda assim, possível vislumbrar algumas construções da época áurea do ciclo da borracha, quando o bem extraído das seringueiras fazia fama internacional e injectava avultadas divisas em Manaus.

Errar pelo Largo de São Sebastião e calcorrear a calçada portuguesa é como adentrar na máquina de um tempo glamoroso, principalmente quando nos detemos diante do majestoso Teatro Amazonas, símbolo remanescente do ciclo da borracha e marco da cidade. A obra deste monumento, que actualmente recebe os principais espectáculos culturais do Estado, foi iniciada em 1881 e demorou década e meia a concluir e por uma explicação plausível: todas as peças provieram do exterior, numa época em que o transporte fluvial era o único existente. O ferro usado era escocês, o mármore italiano, os cristais franceses e a madeira, de origem brasileira, fora manufacturada na Europa.

No dia seguinte, uma passagem pelo célebre porto fluvial de Manaus, agitado por um vai-e-vem incessante de pessoas e mercadorias expelidas pelos icónicos barcos de três pisos, e um resto de tarde a errar pelas artérias atulhadas de vida e de sons quentes no denominado centro histórico.

Cumprida a visita fotográfica que ainda me levou à promenade de Ponta Negra ou a parques-oásis interessantes e ao famoso encontro das águas (Solimões e Negro), o foco mental mantinha-se à distância de 600 quilómetros, em Tefé, a maior cidade próxima a Mamirauá e a segunda em tamanho do Estado do Amazonas (70 mil habitantes). A travessia aérea, de pouco mais de uma hora, redunda numa experiência inaudita. A moldura da janela exibe um filme sem movimento nem atores visíveis, mas sobrevoar aquele imenso corpo vegetal de artérias líquidas é uma experiência inestimável.

Porta para o paraíso

Os imprevistos são as estórias repisadas de uma viagem. Pese agendado, ninguém me aguardava no espartano aeroporto. Nem a mim nem a um grupo de oito biólogos, sete gaúchos e um costa-riquenho, o Óscar, que aproveitaram a “desculpa” de um congresso em Manaus para sentirem o pulso à floresta, em decalque ao meu percurso. Vi-me envolvido num grupo que à partida não desejaria mas que, no desfecho, se revelaria enriquecedor. Desculpas para cá e explicações para lá, num ápice estávamos no porto de Tefé, onde, sob forte canícula, impera o ritmo vagaroso e despreocupado dos tefeenses, uma cidadezinha no meio de nenhures mas estabelecida precisamente a meio caminho entre Manaus e a fronteira tripartida: Brasil, Peru e Colômbia.

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