Fugas - viagens

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Kiev, a porta da Ucrânia


Entre colinas

A Krechtchatik (também lhe chamam a Krechtchkaya) corre entalada entre duas colinas, a que acompanha o rio e outra onde estão as catedrais de Santa Sofia e de São Miguel das Cúpulas Douradas, o ponto onde a cidade começou. Sobe-se até lá a partir da Porta Dourada, uma das quatro portas da cidade do tempo do príncipe Iaroslav, uma estrutura em madeira do século XI, com uma capela no interior, reconstruída nos anos 1980. No topo, chega-se a uma praça extensíssima, com os dois templos em cada extremo. Só Santa Sofia - que integra também o património mundial da UNESCO - vale a viagem até aqui. Numa obra publicada em 1954, o historiador de arte George Hamilton definiu-a como "a maior estrutura religiosa monumental da Rússia e a fonte a partir da qual iriam derivar as igrejas ortodoxas nos nove séculos seguintes". Foi construída à imagem de Santa Sofia de Constantinopla, mas, segundo o mesmo historiador, representava já um ponto de partida em relação ao modelo bizantino. No entanto, muito pouco resta da catedral original - foi destruída em 1240, quando os mongóis de Batu Khan arrasaram a cidade, causando a decadência desta. Entra-se no complexo através de uma torre barroca, azul-clara, e avista-se a catedral com as 13 cúpulas verdes e douradas sobre as paredes brancas, que representam Cristo e os 12 apóstolos. O interior é deslumbrante, e preserva alguns frescos originais. O mais impressionante é o da Virgem Orante, do século XI, situado por trás do altar.

Entre os elementos que subsistem da catedral original estão as ânforas vazias colocadas no interior das paredes, para melhorar a acústica. Subdividido em nove naves, o espaço interior é fragmentado e escuro. Hamilton sugere que essa estrutura, que dá um ambiente intimista ao templo, serviria para suportar as 13 cúpulas que iluminam o interior.

Do outro lado da praça está São Miguel das Cúpulas Douradas, um mosteiro em estilo barroco ucraniano, que foi duas vezes destruído na sua história. O edifício original, da Idade Média, também foi destruído pela invasão mongol. Reconstruído no século XVIII, o mosteiro foi depois demolido na era soviética para dar lugar à sede do governo da República Socialista da Ucrânia, nos anos 1930. O complexo soviético só foi parcialmente construído - é agora ocupado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano - e o templo seria reconstruído no princípio deste século. O mosteiro reconstruído, todo ele em tons de azul-claro e com cúpulas cintilantes, tem à entrada uma torre que oferece um panorama excelente da cidade.

O percurso às origens de Kiev fica completo se descermos de São Miguel até ao Podil, um bairro comercial nas margens do rio. Pode-se ir pelo funicular e sai-se em frente à bela Igreja da Natividade. Hoje em dia é a alternativa à Descida de Santo André, uma das ruas mais interessantes da cidade, onde se ergue outra magnífica igreja barroca, que também se chama Santo André, e domina todo este lado da cidade. Igualmente em tom azul-claro, a igreja foi encomendada pela imperatriz Isabel, em 1744, e o projecto é de um arquitecto italiano, Bartolomeo Rastrelli. Na descida há galerias de arte e um mercado de rua onde é possível comprar souvenirs como antigas bandeiras ou bonés militares soviéticos. Mas a rua está interrompida e é impossível não só visitar a igreja como seguir até ao Podil, que é um bairro singular, de prédios baixos, com lojas e cafés simpáticos, que parece ter ficado esquecido deste lado da cidade. É, no entanto, uma das partes mais antigas de Kiev, que originalmente era constituída pela colina onde fica Santa Sofia e por este bairro, onde ainda hoje existem inúmeros embarcadouros.

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