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    O chef recorda uma açorda de alho da avó Gonçalo F. Santos e Bruno Barbosa
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    Lagostins, percebes e ouriços do mar são os eleitos Gonçalo F. Santos e Bruno Barbosa
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A última ceia dos chefs

Há um punhado de ouriços na cozinha. “A época de defeso terminou”, explica. Quando era miúdo via-os entre as rochas e ninguém os apanhava. “Ainda agora não são muito conhecidos, mas começam a comer-se mais”. Ele gosta, como quase tudo o que o mar dá. É o conforto do lugar onde foi e é feliz. Um dia — que foram muitos — também foi feliz em Budapeste com um Big Mac, comprado no McDrive antes de chegar a casa, era o seu ideal de refeição quando o mar estava longe...

Junte-se um punhado amigos, “escolhidos a dedo”, um local com vista de mar, claro, e ele a cozinhar — o derradeiro prazer. Sirva-se “uma cerveja super gelada ou um champanhe, mas também podia ser um espumante português e a última refeição seria perfeita.

Alexandre Silva
Loco, Lisboa

A avó Silvéria, que já soma 94 anos, costumava fazer uma açorda de alho com bife grelhado que era o regalo dos netos. Alexandre Silva gostaria de repetir esse prato que lhe devolve os dias na Abrigada, concelho de Alenquer, e que representa tudo o que é, “a simplicidade”, resume. “Tem uma grande simbologia para mim”.

Na verdade, nunca pensou que a avó pudesse ter a sua quota de responsabilidade por se ter tornado chef, mas sabe que foi a matriarca quem lhe deu a sensibilidade e ajudou a construir o palato que tem. A casa da avó Silvéria era onde se encontravam à hora de almoço, Alexandre, o irmão e os primos. “Todos os netos recordam a maneira de ser dela e como com qualquer coisa fazia boa cozinha”, lembra. Outras influências vêm dos tempos passados na terra, até aos 18 anos, no sopé da serra de Montejunto, na aldeia, com gente humilde, que repartia o trabalho entre a lavoura, o campo e as vinhas. “O meu avô era vitivinicultor e eu acompanhava-o, tínhamos horta, animais, pomares, aprendi a escolher os produtos, trabalhar no campo não era uma opção, fazia parte do dia-a-dia, todos ajudávamos. Hoje sinto falta disso.”

Guarda uma foto de turma da terceira classe, do dia em que comeu manga pela primeira vez. “O sabor fazia-me lembrar eucalipto”, recorda. O episódio parece banal mas demorou oito anos a experimentar um fruto que a filha com dois meses já provou. Ao mesmo tempo que não tinha acesso a tudo onde vivia, havia um respeito pelos ciclos da natureza. Quando entrou numa cozinha profissional, na Escola de Hotelaria, espantou-se que em qualquer altura do ano houvesse tomate, alho francês, melão. Na sua cozinha no Loco voltou às origens e trabalha com micro-estações. “Há produtos que não duram mais de uma semana, porque a chuva não deixa”, justifica. Daí a dinâmica da carta sempre a aproveitar os recursos que a natureza dá.

No hipotético corredor da morte, Alexandre Silva, 35 anos, imagina que “a vida a passar à frente dos olhos”. Revisitaria as raízes. Não faltaria o episódio em que cozinhou um coelho estufado que deu a provar à avó Silvéria que, mais rigorosa que o júri do Top Chefe — concurso que ganhou na primeira edição portuguesa —, lhe criticou o excesso de alecrim. E ele, para quem comer sempre foi, é e será um prazer, seria um homem feliz com a simplicidade do pão de vários dias, alho e azeite, juntos numa açorda, e um belo bife grelhado, como a avó lhe preparava.

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