Fugas - Viagens

Enrique Marcarian/Reuters

Viagem à volta dos mundos dos livros de viagens

Por Andreia Marques Pereira

Com Ulisses vivemos uma Odisseia, com Fernão Mendes Pinto fomos em Peregrinação sem sair do sofá. Entretanto, a Índia está aqui ao lado e o Japão não tem que ser um lugar estranho. Viajamos nos livros, conduzidos por Andreia Marques Pereira, para se calhar um dia viajarmos com os livros. De uma maneira ou de outra, um dia destes podemos chegar a Ítaca...
"Conheço a Patagónia [na foto] quase até ao cheiro", declara Francisco Guedes. Sabe, inclusivamente, que há uma estrada em linha recta, 40 quilómetros de nada e, de repente, um abismo com 150 metros de profundidade: um vale que é um oásis de quase 150 quilómetros de extensão. Da mesma forma, conhece a cidade do México. Francisco Guedes - editor, tradutor, organizador do Literatura em Viagens (LEV), em Matosinhos -, nunca esteve, fisicamente, na Argentina ou no México. Mas o caminho para Río Gallegos conhece-o (quase) de cor e por lá se movimenta (quase) sem surpresas. Já lá foi com vários escritores, Lázaro Covadlo, Luís Sepúlveda, Mempo Giardinelli, de quem traduziu um livro, "Fim de Romance na Patagónia". É assim que vai "conhecendo", "viajando por aí". "Posso não poder lá ir", constata, "por isso viajo de outra maneira". Através dos livros.

"Os livros têm essa vantagem", nota Carlos Vaz Marques, "é o meio de transporte mais barato que eu conheço. Nós não podemos ir a muitos sítios, mas os livros levam-nos a sítios onde nunca poderíamos ir de outro modo. Nesse sentido é um meio de transporte muito acessível e ao alcance de todas as pessoas que queiram usá-lo". Por isso, quando foi convidado pela editora Tinta-da-China a organizar uma colecção de livros, o autor de Pessoal. e Transmissível, na TSF, não hesitou em juntar as duas coisas de que mais gosta, ler e viajar. "A literatura de viagens conjuga as duas vertentes e, acho, é talvez a ligação mais feliz que eu posso imaginar para essas duas coisas."

Viajar é uma das acções mais antigas da humanidade, uma deslocação geográfica que actualmente se pode desdobrar em inúmeras tipologias à medida de cada estudioso. A viagem iniciática, a viagem de descobrimento, a não viagem e a viagem de turismo ("Toda a gente quer ir de férias, não é?", nota Francisco Guedes). E contar as viagens, seja oralmente ou através da escrita, espontaneamente ou com mais cuidado literário, é um impulso quase irresistível. Depois, enquanto uns se fazem à estrada, outros não saem de casa. É uma viagem, são duas viagens é a magia da literatura de viagens. É a magia da viagem na literatura.

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