Fugas - Viagens

  • Um ciclista passa pela Praça de Tiananmen, em Berlim (arquivo).
    Um ciclista passa pela Praça de Tiananmen, em Berlim (arquivo). Guang Niu/Reuters
  • Em Xangai
    Em Xangai Reuters
  • Guerreiros de terracota no Museu de Qin.
    Guerreiros de terracota no Museu de Qin. Jason Lee/Reuters

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Ir à China ver o mundo a mudar

De ponto em ponto, de rua em rua, Xangai ferve com o dinheiro, com a construção, com as obras públicas. Até no Templo de Buda de Jade, bem no coração da cidade, é possível encontrar lojas ao lado do altar onde os ícones religiosos se detêm nas suas poses sisudas. As pessoas da rua entram e são capazes de ignorar as hordas de turistas que as fotografam em genuflexão ou quando baixam três vezes a cabeça com as mãos entrelaçadas em paus fumegantes de incenso. O ritual, percebe-se, ajustou-se ao negócio, como todos os rituais da China.

É possível encontrar bailes improvisados na rua de Nanquim, a artéria pedonal que alberga o comércio mais exclusivo da cidade, um riquexó mais exótico ou uma cartomante de idade que nos interpela com promessas de revelação incompreensíveis. Mas não são estes sinais que os sentidos captam em primeiro lugar. Ali, uma loja com o símbolo da Lacoste mas que, ao perto, pode ser da Lancoste ou da Laoste, além centros comerciais com galerias de moda para todos os preços, aqui uma loja Gucci autêntica ou uma Apple Store cheia de chineses de todas as idades que experimentam furiosamente as máquinas da companhia de Steve Jobs. Senhoras ou jovens carregadas de sacos com marcas da moda (ou falsificações, pouco importa) são o ponto focal incontornável da rua de Nanquim. Os chineses adoram compras e vê-los ali, naquela rua enorme cheia de lojas, é como ver crianças num parque infantil. Todos os anos, os chineses gastam em produtos de luxo cerca de mil milhões de euros.

Quando se regressa ao interminável aeroporto de Xangai, pode-se, naqueles 40 quilómetros que o separam do centro, fazer uma síntese do que é a China nestes tempos em que a mudança prodigiosa do último século e meio parece estar a acelerar (talvez a crise do euro ou do orçamento dos Estados Unidos acentuem esta sensação...). Nos prédios que se erguem a cada passo, na imponente piscina olímpica acabada de construir para receber os Mundiais de Natação deste ano, nas auto-estradas que se continuam a rasgar entre o casario, na velocidade silenciosa com que o comboio magnético (Meglev) passa nos seus carris, ligando Xangai ao aeroporto em apenas sete minutos a mais de 400 km/h. Já na gare, ultramoderna, milhares de chineses preparam-se para viajar para os cinco cantos do país, para a América em negócios ou para a Alemanha por prazer, prenunciado o inferno aos que terão de conviver com o seu ruído durante 12 horas de voo.

Procura-se pela China que se consolidou num período de cinco mil anos e entrou em erosão há apenas um século, e nas cidades pouco há por onde a ver. O socialismo de mercado não tem condescendência com o passado recente do país, feito de guerras civis, de uma tirania execrável que hoje só se venera por inércia (a de Mao), de pobreza extrema e de isolamento internacional. O passado simboliza o poder eterno no qual os Ming e os Qing erradamente acreditaram, até o socialismo de Sun Yat Sen, o nacionalismo de Chiang Kai Schek e, pouco mais tarde, o comunismo de Mao desfizeram os mitos e destaparam a História. Em Xangai. Há um século apenas.

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