Fugas - Viagens

  • Um ciclista passa pela Praça de Tiananmen, em Berlim (arquivo).
    Um ciclista passa pela Praça de Tiananmen, em Berlim (arquivo). Guang Niu/Reuters
  • Em Xangai
    Em Xangai Reuters
  • Guerreiros de terracota no Museu de Qin.
    Guerreiros de terracota no Museu de Qin. Jason Lee/Reuters

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Ir à China ver o mundo a mudar

Cumprindo a natureza da sua condição comercial, Xangai é o que é por causa do dinheiro. Quando os pais de António, um guia turístico, namoravam nas margens do rio Huangpu, há uns 20 anos, a outra margem, em Pudong, era um lugar distante, habitado por camponeses ou operários da construção naval. Para se chegar lá, era necessário apanhar um barco. Hoje, o cenário que se vê da cidade velha mostra um dos retratos mais futuristas do planeta. Torres gigantescas de vidro e aço erguem-se numa competição desenfreada pela glória de chegar mais alto, umas de feições mais clássicas, outras deliberadamente contemporâneas, circulares ou quadradas ou rectangulares, de cor cinza ou douradas. A Jin Mao Tower (Torre da Prosperidade Dourada), com os seus 421 metros de altura, dominou até 2007 o skyline de Pudong; então, em Setembro desse ano, o Xangai World Finantial Centre, uma obra do "expressionismo estrutural" superou-a com os seus 491 metros; mas também este reinado está para acabar, quando, lá para 2014, a Torre Xangai se estrear com os seus 632 metros (a Torre Eifel tem 324 metros de altura...).

Mas se estes emblemas do poder financeiro da China e da praça de Xangai (a quinta bolsa que mais dinheiro mais movimenta no mundo) se destacam pelo seu fulgor e pela sua ambição, a revolução urbana que está a transformar a cidade a um ritmo impressionante só se vê das alturas. Do cimo da Jin Mao Tower, onde se chega em segundos de elevador (a subida custa cerca de oito euros) para depois se avistar o gigantismo desta cidade de 23 milhões de habitantes.

Com o rio a vincar-lhe a identidade entre o que já foi e o que aspira a ser, Xangai é uma planície de arranha-céus que se estende no horizonte visual até onde a neblina e a poluição toleram. Auto-estradas em viaduto torneiam-se entre os edifícios, perdendo-se de vista ao longe, ou acabando em pontes ou túneis que ligam a velha Xangai a Pudong. Não se vê, mas no subsolo existe uma rede de 480 quilómetros de metro que cresce à razão de três quilómetros por mês. Ao lado, a silhueta elegante que acaba numa forma que lembra uma pega de mala, o Xangai World Finantial Centre continua a sua trajectória para as alturas. Mesmo abaixo, podem procurar-se as zonas residenciais dos milionários chineses, que para viverem ali têm de pagar dez milhões de euros por imponentes apartamentos de 500 metros quadrados. Além, por uma nesga, vê-se o que resta da Exposição Mundial de Xangai, no ano passado.

De regresso a terra firme, há muitas outras Xangai que vale a pena procurar. No bairro tradicional de Chenghuangmiao, além da arquitectura tradicional entra-se no frenético interface do compra-e-vende chinês. Um bairro, dizem os guias, um mercado, deve corrigir-se. Há uma miríade de lojas para todos os gostos, como também há uma multidão de vendedores de rua que proclamam malas Vuitton ou relógios Rolex a preços escandalosamente baixos, conforme a qualidade da falsificação. Numa esquina, um teatro de rua a que se assiste de binóculos chama as atenções para uma tradição que, no meio de tantos panos, tantos gadgets e tantas lojas, até parece artificial. Como o recanto do jardim Yuyuan, outrora a residência de um alto funcionário imperial, com as suas plantas adestradas, as águas correndo na direcção do esteticamente correcto, as salas do funcionário despidas e escuras, convidando para a amenidade que o calor húmido do exterior não tolera.

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