Fugas - Viagens

  • Um ciclista passa pela Praça de Tiananmen, em Berlim (arquivo).
    Um ciclista passa pela Praça de Tiananmen, em Berlim (arquivo). Guang Niu/Reuters
  • Em Xangai
    Em Xangai Reuters
  • Guerreiros de terracota no Museu de Qin.
    Guerreiros de terracota no Museu de Qin. Jason Lee/Reuters

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Ir à China ver o mundo a mudar

- "Putoáiá?"
- Sim, sim, "Ronaldo, putoáiá".

Uma expedição à Grande Muralha acaba no limiar da exaustão para todos os que se aventuram até aos pontos mais altos, mas quando se regressa a Pequim é impossível não se proceder a um flashback das nossas próprias experiências e incluir a muralha como uma das coisas mais impressionantes que qualquer memória humana pode registar. Nada melhor, pois, do que regressar ao presente, assistir a um feérico espectáculo sobre a história do kung-fu no Teatro Vermelho, beber um copo de cerveja Tsing-Tao junto às folhas de lótus que marcam a orla do lago Houha e preparar os sentidos para outra viagem. Pequim, e o que representa, serão sempre o ponto de partida para quem ousar meter-se à descoberta da China. Não é tão moderna, subtil e enérgica como Xangai, não é tão antiga e "chinesa" como Xian, mas é ali que o poder emergente da China mais se constata e melhor se cola à pele. Da Cidade Proibida de Yongle ao World Summit Centre do presidente Hu Jintao passaram 600 anos de uma história na qual a China foi um colosso, mergulhou na miséria, e volta agora a ser o que foi outrora. Em Pequim respira-se essa narrativa.

Xian, o que resta da paranóia do primeiro Qin

No aeroporto de Pequim há uma pequena caixa antes da passagem pelos detectores de metais onde todos devem deixar os seus isqueiros. No aeroporto do destino, à saída haverá outra caixinha cheia de isqueiros que poderão ser levantados à vontade. Quem sai da capital e tem uma viagem de 1200 quilómetros em direcção ao interior sudoeste, poderá pensar como quem parte de Lisboa em direcção a, digamos, Bragança. Mal se aterra no aeroporto de Xian, repara-se que não é bem assim. Pela enormidade das pistas; pela grandiosidade dos terminais (um deles, gigantesco, ainda em construção); pela quantidade de aviões aterrados; pelo movimento; pela qualidade dos acabamentos. Esquecêramo-nos de um pormenor: Xian (Paz do Oeste) tem quase oito milhões de habitantes; e de outro: foi capital de 13 dinastias; e ainda de outro: é sede de algumas das mais conceituadas universidades chinesas ligadas às indústrias aeronáutica e das telecomunicações; e, talvez, do pormenor principal: é nos arredores de Xian que se encontra o exército de guerreiros de terracota que imortalizaram a paranóia do imperador Qin Shi Huang.

No átrio do hotel, um vidro separa-nos de grandes estátuas de guerreiros que se hão-de ver um pouco por todo o lado. A presença de brancos, negros, de europeus e indianos, de jovens norte-americanos em visita escolar, sublinha a expectativa que recai sobre a visita à oitava maravilha do Mundo. Há poucos anos, alguns guerreiros foram transportados até ao British Museum, de Londres, e o interesse do público excedeu de tal forma o expectável que as portas do museu ficaram dias abertas até à meia-noite - acabaria por ser a exposição mais concorrida da história do museu. Qualquer livro sobre a China ou sobre a História da Civilização tem o dever de mostrar o rosto de um guerreiro ou uma fila deles. As figuras são impressionantes, uma inacreditável expressão da arte chinesa de há 2200 anos. Mas, além do seu valor estético e histórico, os contornos misteriosos que as envolvem ajudaram a torná-las num valor icónico de importância mundial.

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