Há outras zonas de rumba em Bogotá — na Candelária, notoriamente mais boémia e informal, no Parque del 93 mais à imagem da Zona Rosa — mas uma coisa é certa: os ritmos tradicionais (e são muitos neste país) estão quase sempre em maioria. O orgulho na cultura nacional é uma coisa recente e transversal a grupos etários e classes sociais. Desconhecer Carlos Vives, cantor e compositor de vallenato, é considerado quase um crime de lesa-Colômbia — e não saber dançar é algo inconcebível: não importa qual o estilo, os colombianos (que até têm em Cali um viveiro de campeões mundiais de salsa) parecem dançá-los todos.
Da yuca ao cielo – à mesa
Tentamos saber por diversas vezes qual o prato tradicional da gastronomia colombiana. De todas as vezes recebemos a mesma resposta — em cada região há gastronomia diferente, tanta. O ajiaco santafereño, resumidamente uma sopa de batata, bananos (banana doce), abacate e frango, já foi considerado o prato nacional e continua a ser um ícone — mas, como diz o nome, é de Bogotá. Também a bandeja paisa é referida — feijão, arroz, chouriço, morcela, carne moída, chicharrón, ovo estrelado, plátano (bananas grandes), arepa, abacate e salada —, porém é de Medellín e Antioquia. Por isso, vamos falar do que é incontornável, como as arepas em várias declinações (as de chócolo com queijo das mais populares, as de ovo, “as divinas” — que não chegamos a provar), os patacónes, que são plátanos prensados, a yuca (um tubérculo). Nós comemos carne de vaca (corte de res) e novilho, papas chorreadas (batatas que mantêm um pouco da casca e têm por cima creme de leite e queijo) e criollas — sem ilusões, a comida colombiana não é para estômagos sensíveis, é muito substancial. Nos doces, é obrigatório provar o arequipe (a versão colombiana do dulce de leche) com figos e são imperdíveis os sumos naturais que deitam mão às dezenas de frutos que por lá pululam. Lulo (este em leite), tamarindo, corozo são os mais “exóticos” que experimentámos (todos aprovados); mas os de maracujá, goiaba, manga, tangerina, até limonada (com ou sem coco) parecem ganhar novos sabores na Colômbia.
Mantendo-nos nos sabores colombianos (deixando de lado uma imensidão de restaurantes internacionais), entre cozinha gourmet ou paisa, podemos ser surpreendidos. Nós fomos ao céu com a gastronomia sensorial do El Cielo, onde o jovem chef Juan Manuel Barrientos alia cozinha tradicional aos sentidos de forma original e, por vezes, pueril. O menu “Experiência” foi isso mesmo — inolvidável.
Colômbia busca o realismo mágico
Depois de “Colômbia, o único perigo é o de que queira ficar”, chegamos a “Colômbia, Realismo Mágico” – o turismo colombiano PROEXPORT primeiro finta a reputação de país perigoso, para apostar na cartada literária para promover o país no exterior. Um país que é o único na América do Sul com litoral no Atlântico e no Pacífico e que tem o seu centro, e área mais populosa, enquadrada por três frentes dos Andes. Cidades cosmopolitas, como Bogotá ou Medellín — paradigma da transformação recente da Colômbia, laboratório de arquitectura e capital da moda sul-americana —, montanhas nevadas diante do Atlântico (Santa Marta), cidades históricas, como Cartagena das Índias, ou pueblos coloniais como Mompox, floresta amazónica, ilhas caribeñas, cafetais, sítios arqueológicos milenares, natureza pródiga em fauna e flora — tudo embrulhado numa cultura vibrante, são alguns dos cartões-de-visita da Colômbia, que quer ultrapassar os fantasmas do passado (recente) e afirmar-se como destino de férias e de negócios.