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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
  • Cemitério do Prado Repouso
    Cemitério do Prado Repouso Fernado Veludo/NFactos
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    Cemitério do Prado Repouso Fernado Veludo/NFactos
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério Père-Lachaise Joel Saget/AFP
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    Cemitério Père-Lachaise Jim Urquhart/Reuters
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    Forest Lawn Memorial Park Mark Ralston/AFP
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    Cemitério de St Mary Petr Josek Snr/Reuters
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    Cemitério Highgate Cathal McNaughton/Reuters

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As cidades dos mortos são lugares vivos de cultura

Maldição ou não, o bispo D. Manuel de Santa Inês morreu menos de dois meses depois da inauguração do Cemitério do Prado Repouso, que aconteceu a 1 de Dezembro de 1839; ironia ou não, foi enterrado no Cemitério da Lapa, privado. Ainda não avançamos muito no Prado Repouso quando Ana Paula Pegas nos faz esta pequena introdução àquele que foi o primeiro cemitério público do Porto.

A tarde está quente, mas as árvores cobrem grande parte do cemitério e abrem um túnel na sua avenida principal, que liga o portão ao cruzeiro (vindo do antigo Convento de S. Bento da Avé-Maria, onde é hoje a Estação de S. Bento), na “praça principal”, já ao sol – os cemitérios do século XIX, ditos “românticos”, foram desenhados como cidades e “a parte mais antiga do Prado Repouso pode ser interpretada assim, com vias principais e secundárias, com toponímia…”, explica Ana Paula.

Quem entra aqui agora e se depara com a sucessão de jazigos (mais ou menos) monumentais não imagina que este foi um cemitério desprezado aquando da sua inauguração. “Para aqui vinham os pobres”, conta Ana Paula Pegas, “os endinheirados iam para os cemitérios privados das ordens, como do Bonfim ou da Lapa”.

Não é caso excepcional, esta resistência aos cemitérios modernos do século XIX: aconteceu por todo o mundo cristão, quando, por questões de falta de espaço e de higiene, se começaram a proibir enterramentos dentro das igrejas. E também no Prado Repouso se optou por um primeiro sepultamento de “prestígio” para de alguma forma “legitimar” o novo cemitério: foi trasladado Francisco de Almada e Mendonça, figura marcante da governação da cidade no século XVIII.

Quando finalmente vislumbramos o seu jazigo já percorremos mais de metade do cemitério – tivéssemos entrado pelo portão principal seria das primeiras coisas que veríamos, com o seu busto, da autoria de Soares dos Reis, a encimar o mausoléu. Regressamos, portanto, à avenida principal para mergulhar no cemitério romântico e perceber a mudança na relação com a morte que aconteceu no século XIX: anteriormente, os mortos eram enterrados de forma mais ou menos anónima nas igrejas, a partir de então o cemitério permite um reduto individual onde a memória dos que partem é para a “eternidade”. “Os cemitérios românticos são para os vivos”, diz Ana Paula, “toda a beleza [na sua construção] é para facilitar a vida a quem fica”.

São cemitérios para serem vistos e admirados, não se poupando na monumentalidade – o Prado Repouso é pródigo em monumentos neo-góticos graníticos, alguns caprichando no cruzamento com os estilos neo-clássico, grego e até egípcio e prenhes de iconografia representada na arquitectura e escultura que reflecte a vida dos mortos, os sentimentos dos vivos. O corpo desaparece, o nome perdura, mesmo que por estes dias seja anónimo.
Nesta linha estão as duas maiores extravagâncias do cemitério.

Uma é o mausoléu de José Caetano Moreira, um abastado negociante de vinhos – em estilo grego, “terá custado mais do que uma casa”, revela Ana Paula Pegas: uma estátua em tamanho real (a primeira do cemitério) abriga-se sob a cúpula, entre colunas, no cimo de escadaria.

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