Fugas - Viagens

  • Cemitério dos Prazeres
    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
  • Cemitério do Prado Repouso
    Cemitério do Prado Repouso Fernado Veludo/NFactos
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    Cemitério do Prado Repouso Fernado Veludo/NFactos
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério Père-Lachaise Joel Saget/AFP
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    Cemitério Père-Lachaise Jim Urquhart/Reuters
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    Forest Lawn Memorial Park Mark Ralston/AFP
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    Cemitério Feliz Bogdan Cristel/Reuters
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    Cemitério Central Lisi Niesner/Reuters
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    Cemitério de St Mary Petr Josek Snr/Reuters
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    Cemitério Highgate Cathal McNaughton/Reuters

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As cidades dos mortos são lugares vivos de cultura

A outra é a capela de António Ribeiro Forbes, um brasileiro de “torna-viagem”, a maior do cemitério e assinada pela oficina de Emidio Amatucci, um dos mais celebrados artistas funerários da altura, que encheu a fachada de símbolos para a eternidade, dos morcegos (guardiães da alma) à ampulheta (tempo), passando pelas caveiras com tíbias cruzadas (a lama).

A inscrição já se perdeu, mas é difícil passar indiferente à escultura de uma árvore cortada, com uma lágrima – “a árvore é símbolo de vida, aqui significa uma vida interrompida”. É difícil resistir à curiosidade quando perante um túmulo com a escultura de uma pomba a dormir. Ana Paula refere que significa morte prematura: deciframos a inscrição, Elvira, morta em 1910, com 17 anos. E aqui já passamos para o “turismo mórbido”, queremos saber quem está lá.

Não é Camilo Castelo Branco, mas há quem lhe veja parecenças. O compositor Francisco Eduardo da Costa tem uma arca tumular que lhe eterniza a vocação – os tubos do órgão, o teclado, uma partitura e o seu busto no topo. “Não sei quem é este homem, está abandonado há muitos anos, mas como era um senhor… Até parece o Camilo”, diz a senhora de balde e vassoura na mão, queixando-se do abandono de outras secções do cemitério, “cheias de ervas”.

Estamos à vista do impressionante mausoléu de Domingos José Ferreira Cardoso e mais à frente descobrimos outro ainda mais grandioso, do negociante José Martins Azevedo, em forma de ampulheta, rodeado de gradeamentos. Entre jazigos abandonados (com vidros partidos e caixões caídos), deparamo-nos com uns revestidos a azulejos, uma singularidade nacional, e alguns montes Gólgota mais ou menos elaborados.

Com Ana Paula vamos aprendendo a decifrar as intenções por detrás do trabalho dos artistas (colunas de pedra quebradas significam morte sem descendência), a distinguir figuras, como a caridade, a bondade e a saudade (a mais famosa no túmulo da família Resende, uma espécie de suspiro final do Romantismo), e já não falhamos as flores perpétuas esculpidas em muitos jazigos.

O túmulo de Viterbo de Campos é mais ideológico: compasso, régua e esquadro convivem com um facho virado para cima, a eternizar a força da vida deste “líder operário e membro do partido socialista”. Noutra direcção, o jazigo de António Pereira Baquet, proprietário do Teatro Baquet, exibe-se de forma naturalista, como um caverna de pedras e gradeamento a imitar troncos coberta de hera que quase tapa o busto no cimo.

De um classicismo quase canónico a arca tumular dupla do casal José Silva Passos e a sua gémea, ambas a flanquearem a entrada da secção da Misericórdia do Porto – um cemitério privado dentro do municipal. Foram mandados construir pela viúva do Silva Passos, uma para o casal outro para o seu irmão e sua mulher: cada gavetão é contornado por uma serpente (a eternidade) e coroado por um cão (fidelidade), no caso um galgo idealizado – diferente de uma arca tumular na avenida principal em que o cão que a tutela, de tão natural, pode bem representar a mascote da família e não um ideal. Ainda dentro do cemitério da Santa Casa da Misericórdia destaque para o mausoléu aos Mártires da Liberdade.

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