Cemitério Highgate (Londres)
Não será um destino comum entre cemitérios, mas o Highgate rapidamente se tornou o cemitério da moda na Londres oitocentista a preparar-se para entrar na era vitoriana: 15 anos volvidos, teve de ser ampliado e durante parte da década de 1860 aconteciam cerca de 30 enterros diários.
Inaugurado em 1839, foi um dos sete (conhecidos por “Magnificent Seven”) criados na altura para responder a uma população crescente na capital inglesa e gozou de uma localização privilegiada, na colina da aldeia de Highgate com vista para a cidade. Localização que foi trabalhada para criar um jardim ao estilo inglês, cheio de plantas exóticas combinadas com arquitectura exuberante e única que o declínio só veio alimentar, tornando Highgate o cemitério-ícone dos filmes de terror ingleses da década de 1970.
Na verdade, poucos cemitérios no mundo conjurarão a mesma atmosfera irredutivelmente gótica da necrópole londrina, onde a natureza e a fauna amplificam o dramatismo monumental da arquitectura. Aqui encontra-se plasmada a atitude vitoriana perante a morte representada pela construção de extravagantes edifícios e monumentos neo-góticos que agora quase desaparecem perante o avanço da flora e a ousadia da fauna: as árvores são companhia constante à laia de bosque, as flores crescem à vontade, os fetos multiplicam-se, a hera trepa por onde tem espaço (incluindo jazigos, mausoléus, cenófitos), circulam pássaros, raposas...
A Avenida Egípcia e o Círculo do Líbano são os espaços centrais e certamente icónicos deste cemitério com os seus jazigos e tumbas escavados nas colinas. E aqui estamos no chamado Highgate Oeste, a parte mais antiga do cemitério, que só pode ser percorrida em visitas guiadas.
A parte mais recente, Highgate Este, a mais conhecida, tem visitas livres e é aqui onde se encontram as personalidades mais famosas. Karl Marx, filósofo e ideólogo do comunismo, é a principal, atraindo legiões de camaradas ao seu memorial. Não é o único, mas é o mais universal, entre uma lista que inclui desde a escritora George Elliot ao “guru” do punk, Malcolm McLaren, passando por familiares de Charles Dickens (a mulher, os país e um irmão)...
Nesta parte “nova” do cemitério de Highgate, os monumentos vitorianos convivem com os mais modernos e, inclusive, com sepulturas modestas, já que a opulência vitoriana não sobreviveu à I Guerra Mundial e às mudanças que esta trouxe à estrutura das sociedades.
E é impossível falar do Cemitério Highgate sem referir os mitos, assombrados, claro, que o rodeiam. Entre as muitas histórias sobrenaturais que suscitou, destaque para a do “vampiro de Highgate”, que envolveu os proverbiais caçadores de vampiros, neste caso dois rivais, expedições nocturnas e profanação de túmulos, com decapitações de cadáveres à mistura e penas de prisão. Isto na década de 1970. Por essa altura já estava incluído na lista da English Heritage.
Cemitério de Staglieno (Génova, Itália)
O “campo santo” de Génova é um dos mais canónicos cemitérios do mundo, tendo servido de modelo e inspiração um pouco porto todo o mundo católico. A falta de personalidades de vocação universal entre os seus defuntos não belisca o seu estatuto de um dos mais belos cemitérios do mundo, repositório de tesouros artísticos que fizeram o escritor norte-americano Mark Twain escrever: “Para nós estas fileiras intermináveis de formas fascinantes são cem vezes mais bonitas do que a estatuária danificada e suja que foi salva do naufrágio da arte antiga para ser exposta nas galerias de Paris para adoração do mundo”; e que se tornaram em improvável iconografia pop, através da capa do álbum “Closer” (uma fotografia do túmulo da família Appiani) e da capa do single “Love Will Tear Us Appart”, ambos dos Joy Division.