Fugas - Viagens

  • Cemitério dos Prazeres
    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério do Prado Repouso Fernado Veludo/NFactos
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    Cemitério do Prado Repouso Fernado Veludo/NFactos
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    Cemitério dos Prazeres Daniel Rocha
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    Cemitério Père-Lachaise Joel Saget/AFP
  • Cemitério Père-Lachaise
    Cemitério Père-Lachaise Jim Urquhart/Reuters
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    Forest Lawn Memorial Park Mark Ralston/AFP
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    Cemitério Feliz Bogdan Cristel/Reuters
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    Cemitério Central Lisi Niesner/Reuters
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    Cemitério de St Mary Petr Josek Snr/Reuters
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    Cemitério Highgate Cathal McNaughton/Reuters

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As cidades dos mortos são lugares vivos de cultura

“Os cemitérios também são laboratórios de arte”, relembra Licínio Fidalgo. “Numa primeira fase não assinavam as peças, talvez por pudor de estarem no comércio da morte, mas a seguir fazem tensão de assinar, porque além de valorizar a peça, estão eles também a divulgarem-se e a se auto-homenagearem”.

“Costumo dizer que, a determinada altura, o morto é o que menos interessa, é o móbil do crime. Depois, tudo aqui se passa a todos os níveis: económico, social, as rivalidades...” O jazigo de Severiano João d’Abreu, por exemplo, é um autêntico painel de publicidade à sua oficina de cantaria: os diversos objectos utilizados na profissão estão esculpidos e, à volta, foi colocada uma rede verde que parece interditá-la, atraindo quem passa. Por baixo foi inscrita a morada da oficina. Hoje em dia “parece a rua do Severiano”, tal é a quantidade de peças que ali estão feitas por ele, conta o historiador.

Já no campo político, não deixa de ser curioso ver José Fontana, do Movimento Operário e das primeiras manifestações do 1.º de Maio, de frente para Azedo Gneco, um dos fundadores do Partido Socialista. Mas aqui também se faziam contratos de casamentos, negócios e contactos. Mais uma vez, Licínio Fidalgo aponta-nos uma proximidade provavelmente cúmplice: Manuel Brito das Vinhas, homem do vinho e da cerveja, e Abel Pereira da Fonseca, do ramo da distribuição. “Antigamente iam no domingo à missa ali na Estrela e depois era quase obrigatório vir ao cemitério”, explica. “Muitos vinham com as roupas compradas em Paris, outros vinham para ser cumprimentados e também quanto mais viessem mais mostravam que aquela tinha sido uma perda sentida”.

E não se podem esquecer os muitos símbolos maçónicos existentes em vários jazigos. “Foram feitos numa altura em que muitas pessoas não sabiam ler e era uma forma de identificarem”. Contudo, Licínio Fidalgo ressalva que já fez visitas com maçons e “muitas vezes eles contradizem-se” na interpretação dos símbolos. “Já vieram aqui com GPS para aferir a orientação e essas coisas”. O objectivo das visitas guiadas, defende, é mostrar que nem em oito dias se conseguiria analisar toda a complexidade que existe nesta cidade de mortos para vivos.

Os incontornáveis

Cemitério Père-Lachaise (Paris)

É uma espécie de rock star dos cemitérios, este cemitério parisiense criado por Napoleão em 1804 que proclamou que “qualquer cidadão tem o direito de ser enterrado, independentemente da raça ou religião”. Assim nasceu o Père-Lachaise, origem imperial mas recepção pouco popular, por estar longe do centro da cidade.

Se os parisienses voltaram as costas ao cemitério, a opção foi clara – um pouco de marketing oitocentista, com as trasladações de La Fontaine e Molière, dois nomes cimeiros da literatura francesa, e, posteriormente, dos protagonistas de u ma das mais trágicas e famosas histórias de amor, Heloísa e Abelardo, ajudaram a tornar o Père-Lachaise num local cobiçado para passar a eternidade. O que não foi (é) um garante de um descanso em paz, como atestam as multidões que diariamente percorrem os seus 48 hectares. Afinal, estes foram os primeiros de uma longa lista de personalidades famosas que no Père-Lachaise encontraram a última morada.

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