Inaugurado em 1851, o Cemitério Staglieno foi concebido no estilo neo-clássico que caracteriza a tradição cemiterial mediterrânica, com um desenho que de algum modo replica a topografia de Génova, cheio caminhos labirínticos e um sobe e desce de escadas (ou este cemitério não trepasse uma colina a leste da cidade).
O efeito é quase de uma galeria de monumentos que posteriormente foi misturada com elementos naturalistas mais característicos das ideias de cemitério do norte da Europa. Do mesmo modo, também a estrutura social da cidade encontra aqui um espelho: a aristocracia fez-se enterrar em torno do panteão (Capella dei Suffragi), que é o coração do cemitério; abaixo, a galeria Porticato Inferiore recebe a burguesia; os columbários são os túmulos da pequena burguesia e a classe baixa tinha campas colectivas
Assim, entre uma abundância de ciprestes e cedros, o mármore refulge, declinando-se em monumentos ricamente ornamentados com representando vários períodos artísticos – do realismo (descrito como “hiper-descritivo”) ao simbolismo, da Arte Nova à Arte Dèco.
São as obras que representam a emergência da arte realista as mais icónicas do cemitério, famoso pelas suas estátuas plenas de detalhes (chamadas “estátuas falantes”), representando os mortos nas suas actividades diárias (como Catarina Campodonico, vendedora de nozes), anjos lacrimejantes, viúvos de luto ou famílias em torno de um leito de morte, por exemplo.
A partir de determinada altura, os túmulos perderam “pudor” e passaram a exibir os sinais da pompa das classes altas de Génova, com esculturas marcadas pelo erotismo e frivolidade, expressos sobretudo em figuras femininas seminuas.
A fama do Staglieno rapidamente se espalhou Europa fora, começando a atrair turistas desde 1880, incluindo alguns famosos que deixaram referências ao cemitério. Por aqui passaram, entre outros, o já referido Twain, mas também o escritor francês Maupassant, a imperatriz austríaca Isabel (Sissi) e Nietzsche. E aqui encontram-se os túmulos de um dos arquitectos da unificação italiana, Giuseppe Mazzini, e da mulher de Oscar Wilde, por exemplo.
Cemitério Central (Zentralfriedhof, Viena)
Chama-se “cemitério central” (Zentralfriedhof) mas está longe do centro de Viena – o nome reflecte não uma localização geográfica mas antes a importância do cemitério, o principal da capital austríaca, inaugurado em 1874 (comemora exactamente hoje 140 anos).
São 2,4 quilómetros quadrados (o último alargamento foi em 1921) que tornam o Zentralfriedhof no segundo maior cemitério da Europa em área, mas no maior em número de sepultamentos, com três milhões em 330 mil campas. Irónico é o facto de o cemitério ter sido construído numa altura em que se previa que Viena, capital do Império Austro-Húngaro, viesse a atingir quatro milhões de habitantes no final do século XX e de agora ter o dobro dos residentes vivos da cidade. Os vienenses costumam, aliás, brincar com o tamanho do cemitério: “Tem metade do tamanho de Zurique e o dobro do divertimento”.