Fugas - Viagens

  • Praia em Lima
    Praia em Lima Enrique Castro-Mendivil/Reuters
  • Convento de São Francisco, Lima
    Convento de São Francisco, Lima Enrique Castro-Mendivil/Reuters
  • Praça de San Martín, Lima
    Praça de San Martín, Lima Mariana Bazo/Reuters
  • Huaca Pucllana
    Huaca Pucllana Mariana Bazo/Reuters
  • Varandas “gaudíanas“ de Miraflores
    Varandas “gaudíanas“ de Miraflores Pilar Olivares/Reuters
  • Praia de Agua Dulce, no distrito de Chorrillos, Lima
    Praia de Agua Dulce, no distrito de Chorrillos, Lima Enrique Castro-Mendivil/Reuters

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Lima não tem tempo para ser triste

Organizado em circunferência, acompanhando a estrutura arquitectónica do edifício, vamos avançando nos semicírculos que rapidamente se transformam em labirinto para descobrir a carne, nas traseiras, o peixe mais central dividindo espaço com bancas de comida, com ceviche ou aguaditos (arroz “malandro”, que aqui se vê sobretudo de marisco e peixe). Estamos em alerta, porque o mercado é uma experiência de sinestesia completa e uma montra para a diversidade dos produtos autóctones de todo o país, abrangendo territórios tão diversos como a costa e os seus desertos aos lagos imensos, da selva amazónica aos picos andinos.

Se a gastronomia foi assumida como assunto de Estado no Peru, sendo uma bandeira política e de promoção turística, não surpreende que uma das mais recentes adições na capital seja a Casa da Gastronomia. Num museu que não enjeita as novas tecnologias lado a lado com representações cénicas, atravessamos cinco séculos de história do país contada em torno da cozinha (com um salto ao “bar” para descobrir a bebida nacional, o pisco). Aqui, dá-se ordem ao que vemos no mercado e à diversidade de produtos do país: por exemplo, 1500 variedades de batatas (e no Peru todos o sabem e dizem-no com orgulho), 35 tipos de milho, 500 frutas (nomes exóticos como lúcuma, chirimoya, pacay) e cereais diversos, entre os quais se destaca a quinoa, indispensável.

Jironear pela cidade colonial

E na Casa da Gastronomia, o antigo posto de correio central, estamos no coração da cidade de Lima, no seu centro histórico, chamado de Damero de Pizarro, aquele que decerto lhe valeu alguns dos seus outros epítetos como “A três vezes coroada vila” ou “Cidade de sinos e carrilhões” — há 42 igrejas nesta zona. A Plaza de Armas continua a ser o centro nevrálgico, mais que não seja porque aqui continua a funcionar o Palácio do Governo, também este uma síntese da história turbulenta do país: foi o palácio de Taulichusco, o último caraca (cacique) de Lima antes da chegada dos espanhóis, depois arrasado para construir a residência de Pizarro e reconstruído em 1920 depois de um fogo — nos últimos quase 500 anos (Lima foi fundada em 1535) foi o centro do poder político do país.

Havemos de voltar, mas no primeiro dia há um palco num dos cantos da grande praça, cujo centro é uma esplanada com retalhos de jardim, com palmeiras a conviverem com candeeiros de ferro forjado, organizada em torno de uma fonte imponente (que no Dia Nacional do Pisco Sour se enche da bebida). Não há multidões nesta sala de visitas ampla, rodeada de fachadas nobres e de edifícios coloniais, pintados de amarelo torrado com varandas em madeira escura e grandes arcadas — num deles, o do ayuntamiento, ergue-se a bandeira do Peru e a bandeira arco-íris do império inca (a confusão com a bandeira do movimento LGBT já levou alguns grupos indígenas a manifestar o desejo de a abandonar). A catedral e palácio arquiepiscopal situam-se do lado oposto da praça, rostos pétreos, solenes e majestosos — o portal da catedral, ladeado por duas torres, é elegantemente trabalhado, na mesma pedra escura do palácio contíguo, este armado por duas varandas de madeira maciça, fechadas; no seu interior repousa Pizarro.

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