Fugas - Viagens

  • Praia em Lima
    Praia em Lima Enrique Castro-Mendivil/Reuters
  • Convento de São Francisco, Lima
    Convento de São Francisco, Lima Enrique Castro-Mendivil/Reuters
  • Praça de San Martín, Lima
    Praça de San Martín, Lima Mariana Bazo/Reuters
  • Huaca Pucllana
    Huaca Pucllana Mariana Bazo/Reuters
  • Varandas “gaudíanas“ de Miraflores
    Varandas “gaudíanas“ de Miraflores Pilar Olivares/Reuters
  • Praia de Agua Dulce, no distrito de Chorrillos, Lima
    Praia de Agua Dulce, no distrito de Chorrillos, Lima Enrique Castro-Mendivil/Reuters

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Lima não tem tempo para ser triste

Happy hour: pisco sour

Cecilia Ledesma é uma mulher orgulhosa. Há seis anos decidiu lançar-se na aventura da sua vida: produzir pisco, a bebida nacional do Peru, uma espécie de aguardente (que é também reivindicado pelo Chile). Ela que havia sido casada com um produtor, lançou a sua marca própria, Qollqe, com um objectivo bem definido: entrar no mercado premium, numa nova categoria, o “pisco boutique” — aquele que é produzido em pequenas adegas, de forma artesanal.

É o que se passa com o Qollque, que tem uma produção reduzida, três mil litros, está pelo menos um ano em repouso (não em barricas) e só utiliza mosto yema, “o primeiro mosto da uva, que sai por gravidade”. Não é utilizada prensa, portanto, e o resultado é um líquido completamente transparente. Os seus três piscos são os protagonistas da nossa primeira (e única) prova de piscos — o Quebranta, o Italia e o Acholado, este um blend de quatro castas. Confessamos que, apesar de não sermos neófitos no pisco, nos custa distinguir os aromas e sabores de cada um; por isso deixamos o assunto para especialistas e avançamos para o pisco sour, o cocktail mais conhecido à base desta bebida.

Já não é um segredo peruano, mas aqui, apesar de não o bebermos no Morris Bar, onde foi inventado na década de 1920, porque já fechou, bebemos se calhar o melhor descendente. Roberto Meléndez, o chefe do Bar Inglês do hotel Country Club (o nosso poiso limenho) que nos prepara os cocktails com pisco Qollqe, é filho de Felipe Meléndez, que durante 50 anos trabalhou no Hotel Maury, onde a receita original evoluiu e se fixou na formulação actual. “Na nossa família levamos 77 anos a preparar piscos sours”, reivindica, orgulhoso. Pisco, sumo de limão, xarope simples, clara de ovo, gelo e umas gotinhas de angostura a coroar — estes são os ingredientes que fazem os pisqueros vibrar.

Amazónia, o eterno retorno na selva peruana

Os dias começam cedo na selva. Já o intuíamos e não quisemos ser a excepção. Até porque os motivos para madrugar são irresistíveis — no nosso caso, ver o nascer do sol do alto de uma torre de vigia. Por isso, levantar-nos com a escuridão ainda à solta poucas vezes foi tão fácil. Uma curta caminhada na selva (com placas de indicação) até à clareira onde a torre se ergue: 30 metros a subir por uma estrutura de ferro pouco indicada para quem sofre de acrofobia.

Do topo, um mar feito de um catálogo de verdes e um rio de cor lamacenta que o rasga. Já amanheceu mas o sol teima em não sair — e tanto teima que acabamos por não o ver (com bom motivo pois em algumas horas, o céu vai desabar numa chuva infinita). Mas somos brindados por arco-íris em bandos, que são papagaios (talvez alguns tucanos) em voos controlados entre gigantescas copas de árvores, algumas quase ao nível da plataforma onde ficamos por largo tempo.

É a primeira e a última vez que temos este panorama aéreo deste canto da bacia amazónica no departamento de Madre de Dios, Peru, (que tem 60% da sua área ocupada por floresta tropical) quase encostado ao Brasil e Bolívia. Estamos em reserva particular da Comunidade do Inferno, habitada pela etnia ese’ejja, que se cola à Reserva Nacional de Tambopata, o mesmo nome do rio que vemos do alto, do mesmo rio que é a nossa auto-estrada nesta região.

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