Fugas - Viagens

  • Nicolás Sánchez-Biezma
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Na Jordânia, entre o mar e o deserto

O Cedar Pride ficou também fatalmente danificado, apesar de manter o casco intacto e permanecer à tona. Durante três anos, a embarcação manteve-se no porto jordano, sem ninguém assumir responsabilidades pela sua manutenção ou pelas taxas portuárias que se acumulavam. A 16 de Novembro de 1985, por ordem do então herdeiro da coroa jordana e actual Rei Abdullah II, a história do Cedar Pride teve o seu mais honroso capítulo. O navio foi propositadamente afundado para se transformar num grande recife artificial, muito perto da costa. É hoje uma das grandes atracções marinhas do golfo de Aqaba. Repousa apenas a nove metros de profundidade, o que o torna acessível para qualquer mergulhador, independentemente do nível de experiência.

Foi surgindo à minha frente, imponente, num mergulho matinal. Está virado para bombordo, assente em dois recifes de coral, que permitem passar por baixo do casco, através de uma pequena fresta. Com os mais variados corais encrustados na sua ferragem, é também o habitat de inúmeros pequenos peixes coloridos. Maior prática de mergulho é necessária para explorar o seu interior. Quem o possa fazer não o esquecerá. Dentro de um compartimento do navio, existe uma grande bolha de ar, que permite respirar sem o regulador na boca, embora, por precaução, não seja aconselhado. Visitei-o duas vezes, em dias diferentes. Tem um ar solene e enigmático.

Na última vez, fomos conduzidos por Shadi Hatokay, um jovem jordano, bastante profissional e minucioso no que respeita à segurança dos clientes que vão ao centro de mergulho Ahlan Aqaba, que dirige com a sua mulher. Ela é eslovena. No seu iate, depois de dois mergulhos, Shadi contou-me que a conheceu por estas paragens e lembrou, com saudade, uma visita que fez à Eslovénia. Deslumbrou-se com as vastas florestas verdes desta república da ex-Jugoslávia, contrastantes com as áridas paisagens do Médio Oriente. O cheiro a churrasco, que a tripulação do bem equipado barco está a preparar para o almoço, invade o ambiente e aguça-nos o apetite. Servimo-nos e comemos em silêncio, contemplando a paisagem. Indica-me depois as altas e estéreis montanhas, em tons ocres claros, que cercam as águas calmas e transparentes do golfo, em redor de Aqaba. “Gosto muito das árvores e do verde, mas o deserto também é maravilhoso. Vais gostar.”

Maria e Fernando

Quase todo o grupo que viaja comigo na Jordânia (somos 14 no total) é composto por agentes de viagens, especializados em mergulho ou em desportos radicais. São todos espanhóis, excepto eu e outro português, que conheci no avião, logo na partida de Lisboa. Até aos 39 anos, Fernando era um quadro médio de uma grande companhia de seguros, com uma vida estável e financeiramente confortável. Um dia decidiu mudar tudo e investir o seu tempo num pequeno negócio conhecido por O Peixe Voador. Inicialmente, acompanhando o fundador, com mais duas outras pessoas; agora, sozinho, com o apoio de três dedicados colaboradores. O mergulho é a sua grande paixão e detalha cada experiência num pequeno e grosso notebook, onde escreve com uma caneta de bico particularmente fino, numa letra miudinha, quase indecifrável a olho nu. Já leva mais de 600 mergulhos no currículo e estreou, recentemente, o segundo caderno de apontamentos. Ao longo desta viagem, insistiu sempre, em várias conversas, que para se mergulhar bem são necessárias apenas duas coisas: controlo de flutuabilidade e, acima de tudo, atitude. Debaixo de água e à superfície.

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