É neste extraordinário recinto arqueológico que muitos dos ciganos de Wadi Musa, principalmente os mais jovens, procuram sustento. Oferecem-se para transportar turistas com os seus burros e camelos, enquanto as crianças vendem pequenas recordações. Para atrair clientela, apresentam-se como beduínos e pintam olhos e sobrancelhas com uma espécie de henna preta, o que reforça bastante o seu exotismo. Meto conversa com um grupo de três, que descansam numa sombra, ao lado dos seus jumentos. O mais comunicativo é a reencarnação de Jack Sparrow, a personagem de Johnny Depp na saga Piratas das Caraíbas. Ao saber que sou português, ergue-se e grita: “Cristiano Ronaldo!” Estava quebrado o gelo. Foi assim que iniciei muitas conversas na Jordânia. Quase todos os que encontrei são adeptos fervorosos do Real Madrid ou do Barcelona. De Ronaldo ou de Messi. Seguem os jogos pela televisão com algum fanatismo. Portugal não é um país desconhecido em Petra, e na Jordânia em geral, muito por causa do futebol. O meu “Sparrow” fala dos últimos jogos da sua equipa, até se despedir com um sorriso aberto.
Mais tarde, no autocarro, a iniciar o regresso a Aqaba, o nosso guia em Petra, um jordano chamado Suliman, que fala um castelhano fluente, mostrou-me o bairro dos nawar, em Wadi Musa. Casas pobres e degradadas. Muitas crianças brincam no chão. Os beduínos não gostam deles, apesar das coincidentes origens nómadas destes dois povos. Não gostam da concorrência em Petra, nem que incomodem os turistas. Criticam a sua higiene e garantem que a maioria está envolvida em actividades ilícitas, relacionadas com a venda e consumo de droga. Dizem que não são jordanos e que não respeitam as tradições.
Para trás, vai ficando Petra, a outrora sumptuosa capital dos Nabateus, que se fixaram nesta região, a partir do século VI antes de Cristo, provenientes do deserto arábico. Foi um ponto de passagem obrigatório para as caravanas comerciais, prosperando com o seu principal recurso natural: a água. A perdida Petra, redescoberta para o ocidente pelo explorador suíço Johann Ludwig, em 1812, quando viajava por estas paragens, disfarçado de mercador árabe. Seguia as fantásticas histórias dos beduínos acerca de uma cidade secreta, oculta em estreitos desfiladeiros, no coração de uma montanha.
Uma noite no mar
Tudo muda quando mergulhamos à noite. É nessa altura que muitas espécies marinhas abandonam a protecção dos seus esconderijos diurnos, em busca de alimento. É no recato da escuridão que os pólipos alojados nos corais se estendem para o exterior, desabrochando como flores de múltiplas cores. Tal como a vida marinha, também os mergulhadores alteram os seus comportamentos na escuridão. O uso da lanterna é obrigatório, mas tem de ser cauteloso, para não encandear os parceiros. E há cuidados redobrados com a orientação. É um mundo novo, maravilhoso, onde se recuperam as cores perdidas pela absorção da luz do sol pela água. Foi assim em Black Rock e Rainbow Reef. Subo sozinho à superfície, por instantes, para admirar as estrelas. Respiro fundo e volto a mergulhar.