Aqaba
São 22h e as ruas fervilham de actividade. Há muitos cafés e restaurantes, as lojas estão abertas e a temperatura é agradável. Aqaba é uma cidade portuária, no extremo Sudoeste da Jordânia, capital da província autónoma com o mesmo nome. É um destino de praia, especialmente procurada pelos amantes do mergulho. O parque automóvel é invejável, a circulação ordenada e não se vê pobreza nas ruas. Não imaginava que fosse assim. Jantamos numa esplanada agradável de uma pequena pizzaria. Olho em volta: vejo um Burger King e outras reconhecidas marcas ocidentais de fast food. Também há casas mais tradicionais, que servem as especialidades locais. Nenhum restaurante muçulmano serve bebidas alcoólicas. Só se encontram em alguns estabelecimentos autorizados e nas mais reputadas unidades hoteleiras internacionais. A nossa pertence a um grupo suíço e está a cerca de 15 minutos de Aqaba, em direcção ao sul. É para lá que desejamos ir, após uma longa viagem que, no meu caso, dura desde as 5h45.
Subimos para o pequeno autocarro, que irá ser o nosso transporte nos próximos dias. No caminho, vejo o gigantesco porto que serve a cidade e que é a única porta da Jordânia para o comércio marítimo internacional. No total, o país dispõe apenas de uma costa de 19 quilómetros, confinada entre Israel, a norte, e a Arábia Saudita, a sul, no golfo de Aqaba, um estreito braço do mar Vermelho. Na margem ocidental, vêem-se as encostas áridas da egípcia península do Sinai. Na estrada, somos parados por um posto de controlo e cruzamo-nos com uma longa coluna militar.
À entrada do hotel, toda a nossa bagagem tem de passar por um detector de metais, um procedimento habitual em todos os grandes hotéis que iremos visitar nos próximos dias. Por fim, chego ao quarto. Ligo a televisão, pela primeira e única vez nesta viagem e procuro os canais locais. Não entendo árabe, mas as imagens de guerra não precisam de legendas e relembram-me onde estou. Apago o aparelho e sento-me numa cadeira no exterior da minha habitação. Tem um pequeno terraço, aberto para os jardins do hotel. Ouço o som tranquilo do mar. Está escuro, mas vejo uma pequena criança a caminhar sobre a relva, aos ziguezagues, a uns 20 metros de distância. Parece sozinha, mas reparo em alguns movimentos subtis atrás dela. Aos poucos, ganha forma uma silhueta de burqa preta integral. Brincam as duas. Um pouco atrás, surge um homem, com uma t-shirt cavada, a fumar. Olha para mim e eu aceno-lhe discretamente. Não retribui.
Cedar Pride
Em 1964, foi lançado ao mar, em Gijón, nas Astúrias espanholas, o cargueiro Mone Dos, com 74 metros e mais de mil toneladas. No mesmo ano, alteraram-lhe o nome para Puerto de Pasajes e esteve ao serviço de uma companhia de Bilbao, até 1969. Passaria depois a chamar-se San Bruno e, em 1978, após ser adquirido por um transitário libanês, seria rebaptizado, pela quarta e última vez, como Cedar Pride. Em Julho de 1982 chegou ao porto de Aqaba. Estava ali fundeado a 2 de Agosto desse ano, quando um incêndio se propagou rapidamente pela sala de máquinas e atingiu a área de alojamento, matando dois tripulantes.