Fugas - Viagens

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Na Jordânia, entre o mar e o deserto

William

O centro de mergulho Sea Star está em cima de uma pequena praia. Tem um restaurante modesto e uma esplanada encantadora, com vista privilegiada para o mar. O sol brilha intensamente, não há nuvens e a temperatura, pouco depois do meio-dia, é elevada. Acabámos de chegar de um mergulho por um recife submerso, chamado Cazar Reef. Retirado o pesado equipamento e depois de tudo lavado com água doce, aproveitamos a paisagem. Junta-se a nós o proprietário do espaço, um homem alto e robusto, com um minúsculo boné e uns grandes óculos redondos escurecidos. Veste uma camisa às riscas, enfiada dentro das calças verdes claras. Foge ao padrão jordano. Tem um enorme sorriso jovial, que esconde os seus 80 anos, recém-completados. Com as mãos na cintura, pergunta-me se também sou espanhol. Digo-lhe que venho de Portugal. “São todos do Al-Andalus!” Quero saber o seu nome: “Chamo-me William.” Não escondo a surpresa. “O meu pai adorava ingleses.” Ao almoço, vai contar-me a sua peculiar história.

William Sawalha nasceu em 1936, em Jerusalém, mas as suas origens encontram-se numa tribo beduína cristã, proveniente de Madaba, a sul de Amã. Foi dali que saíram os seus pais no final da I Guerra Mundial, em direcção à cidade santa da Palestina, então administrada pelos britânicos. A família tinha algumas posses e investiu na educação do pai de William. Aprendeu a falar inglês e alemão e formou-se em engenharia. Viajou por alguns países europeus durante o pós-guerra. Nos anos de 1930 assentou em Jerusalém e foi construindo um pequeno império hoteleiro. Entretanto, nascia William e, pouco depois, eclodia a II Guerra Mundial, que trouxe algumas privações. Com o fim do conflito global, outro começou a ganhar forma, agora às portas de casa. A crescente hostilidade entre judeus e árabes, e os contantes tiroteios nas ruas de Jerusalém, levaram a família Sawalha a procurar segurança na Jordânia. O novo estado de Israel impediu, para sempre, um regresso, e todo o seu património imobiliário foi ocupado e nacionalizado.

Recomeçaram do zero. William cresceu e seguiu as pegadas académicas do pai. Foi para os Estados Unidos, onde tirou dois cursos superiores de engenharia, na Califórnia, regressando depois à Jordânia. Primeiro para Amã, onde investiu também no sector hoteleiro; depois mudou-se para Aqaba. Gosta do país e é um admirador confesso do Rei Abdullah II, como todos os jordanos com quem me fui cruzando. Ser cristão aqui não é um problema. Diz ser respeitado por todos os muçulmanos. Pergunto-lhe sobre a guerra no Iraque e na Síria. O seu sorriso desaparece. Abomina todo o radicalismo, em particular aquele que é promovido pelo autoproclamado Estado Islâmico. Coloca uma expressão grave: “É a ignorância que provoca o extremismo.”

Wadi Rum

O sol ainda estava baixo e o deserto já ardia. Primeiro ponto de paragem: a velha e abandonada estação ferroviária de Wadi Rum. Uma antiga locomotiva com a bandeira do Império Otomano esvoaça numa carruagem. Os carris estão ferrugentos. É um museu ao ar livre. Em redor, o cenário é esmagador e cinematográfico. Areias com tonalidades de amarelo escuro, âmbar, vermelho; à distância, revelam-se majestosas montanhas de rocha monolítica, de arenito e granito; alguns arbustos salpicam a paisagem. Lembra o Grand Canyon americano. O silêncio é profundo.

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