Como ustedes no lo ignoran, he viajado mucho. Esto me ha permitido corroborar la afirmación de que siempre el viaje es más o menos ilusorio, de que nada nuevo hay bajo el sol, de que todo es uno y lo mismo, etcétera, pero también, paradójicamente, de que es infundada cualquier desesperanza de encontrar sorpresas y cosas nuevas: en verdad el mundo es inagotable.
Jorge Luís Borges, Cuentos Breves y Extraordinarios
O convite veio pelo telefone. “Queres ir mergulhar à Jordânia?” Do outro lado da linha, a editora da Fugas deu-me uns instantes para reflectir. Nunca tinha estado no Médio Oriente e não reconhecia a Jordânia como destino de eleição para actividades subaquáticas. Por outro lado, estava num período particularmente intenso de trabalho e sem grande disponibilidade. Mas pouco hesitei. Duas semanas depois, entrava no Aeroporto de Lisboa, numa madrugada chuvosa e fria de domingo. As expectativas eram relativamente modestas. Essencialmente, tinha curiosidade em conhecer um país plantado numa das regiões mais quentes do globo, a conviver tão perto com as barbáries da guerra para lá das suas fronteiras, na Síria e Iraque. Era uma viagem definitivamente diferente, mas não alimentava grandes surpresas, depois de tantas outras que fui fazendo ao longo dos anos. Enganei-me: o mundo é mesmo inesgotável. O que se segue saiu de alguns dos apontamentos que fui anotando no meu habitual caderno de viagens, normalmente para consumo pessoal. Originalmente, o tema de fundo deste artigo era o mergulho no mar Vermelho, mas tal seria redutor numa experiência que se revelou tão enriquecedora.
Aeroporto de Amã
Cinco horas e meia desde Madrid até Amã. Aterramos na capital jordana pelas 19h locais (mais duas do que em Lisboa). O aeroporto é moderno e muito amplo. Está estranhamente calmo para a hora. Pouca gente a circular e quase todos jordanos ou turistas provenientes de países próximos. Há poucos ocidentais e o nosso grupo, ruidoso, não passa despercebido. Inicialmente, as medidas de segurança parecem ser débeis. É ilusório. Pedem-nos algumas dezenas de dinares jordanos (JD: uma unidade equivale a cerca de 0,70 euros, no câmbio local) pelo visto de entrada, mas o elemento da Royal Jordanian, que nos aguarda, ultrapassa as burocracias e evita a despesa. Indica-nos a zona de embarque para Aqaba e despede-se, sem sorrisos. Pouco afáveis são também os funcionários alfandegários, que inspeccionam morosamente cada passaporte, vasculhando os destinos anteriores, antes de carimbarem os documentos. À medida que nos aproximamos da zona de embarques para os voos domésticos, o aparato policial aumenta. Tudo é examinado com o máximo detalhe e o material de mergulho que, quase todos, os meus companheiros transportam obriga a uma revista mais pormenorizada. Motivam algumas perguntas curtas, por vezes ríspidas. Esperamos pelo embarque numa zona com poucos bancos e aguardamos sentados no chão. Finalmente, as portas são abertas e sujeitamo-nos a nova inspecção, com um detector de metais. Há alguma tensão no ar.