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    Pedro Sequeira do Astoria, Palácio das Cardosas, Intercontinental, Porto Gonçalo F. Santos e Bruno Barbosa
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    Nada de grandes sofisticações: pão com chouriço e as memórias destes sabores Gonçalo F. Santos e Bruno Barbosa
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A última ceia dos chefs

Por Sandra Nobre

O que escolheria um chef para a sua última refeição? Que ingredientes lhe dariam o derradeiro prazer? Mate-se a curiosidade!

O corredor da morte. A chegada do juízo final. O que escolheria um chef para a sua última refeição? Que ingredientes lhe dariam o derradeiro prazer? Entre as memórias e os restaurantes que ficaram por conhecer, as escolhas denunciam a gula, a luxúria ou a simplicidade. Mate-se a curiosidade!

Pedro Sequeira
Restaurante Astoria, Palácio das Cardosas, Intercontinental, Porto

“Procuramos sempre algo que nos reconforte e encontramos isso nas nossas memórias”. É essa viagem no tempo que leva o chef Pedro Sequeira à vila de Serpins, no concelho da Lousã, onde cresceu até aos 17 anos e onde ainda vivem os pais. É aí que tem as suas raízes. Vem-lhe à recordação os mergulhos no rio Ceira, os passeios por montes e vales, que quer dar a conhecer à filha Constança, as trotinetas e carrinhos de rolamentos que construía com o que estivesse à mão, o perfume dos alambiques, a broa a sair do forno de lenha. “Outros tempos!”

As paisagens pinceladas de cogumelos, nesta altura do ano, pintadas de castanhos e ocres, com as chaminés a fumegarem. Os javalis alimentavam-se dos milheirais para desespero da população e, não é segredo, apesar da clandestinidade do acto, que muitas vezes caiam em armadilhas, fazia-se a matança e comia-se no dia. Pedro Sequeira sempre apreciou a carne, que se habituou a comer, “suculenta, com um sabor intenso e persistente, mais gorda no Outono, mais seca no início da Primavera”.

Sirva-se então o último repasto: lombinho de javali confitado e alheira no bosque com cogumelos silvestres e molho de mirtilo. Está na carta do restaurante Astoria desde o início do Outono e vem sendo aperfeiçoado há três anos. “Os pratos evoluem, crescem, aperfeiçoam-se, experimentam-se novas combinações, novos sabores”. É a primeira vez que esta carne chega à carta, “tive algum receio, mas faz sentido ter pratos de caça”. Vai bem com a alheira, os boletus, cantarelos, trompetas da morte castanhos e pretos, shimeji, o perfume dos mirtilos. Deve ser degustado demoradamente, como uma lareira a arder. Até se apagar.

Miguel Castro e Silva
Less e deCastro, Lisboa

Este texto pede banda sonora. O trompete intimista de Milles Davis é chamado para a preparação do repasto de Miguel Castro e Silva, um menu de degustação. Mais importante do que os pratos que se seguem é a companhia: “Este não poderia ser um acto isolado, gosto de partilhar. Para além da mulher, da família, gostaria de estar rodeado por amigos com o mesmo gosto pela mesa”, diz.

Adora cozinhar, desde menino, continuou nos tempos em que era estudante de Biologia, em Kiel, na Alemanha, dividia o apartamento com amigos e assumia a tarefa para não ter de lavar a loiça. Quando há 24 anos abriu o seu primeiro restaurante, a paixão pela cozinha já tinha superado a dedicação há música — desde os seis que tocava piano e chegou a tocar em algumas bandas. Há coisas que ficam, Maria de Lourdes Modesto sempre disse que ele cozinha como se fizesse música, com a mesma delicadeza, com a mesma entrega. Aos olhos da sociedade da altura não foi fácil: nascido numa família entre a burguesia do Porto e o rigor alemão, por parte da mãe, ser cozinheiro não era uma profissão prestigiante, pelo contrário.

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