É iniludível que nos encontramos numa estância termal: os edifícios de rigor austro-húngaro, que ladeiam a alameda principal, integralmente restaurados, transportam-nos para estes ambientes idiossincráticos de um certo tempo e sociedade e também as Pedras Salgadas viram a sua dose de alta sociedade — e de realeza. D. Fernando, D. Maria Pia e D. Luís foram presenças reais quando as Pedras Salgadas davam os primeiros passos e os dois primeiros deram até nome a duas nascentes das cinco fontes do parque — a de D. Maria Pia a mais original, uma pequena gruta bem ao estilo romântico encerrada por portão de ferro em forma de troncos de madeira que se entrelaçam; as outras em estilo neo-clássico.
É para além da alameda, uma espécie de passeio público dos tempos áureos do termalismo, que o parque se desenvolve quase como se fosse natural. Com excepções para os jardins desenhados, como o roseiral e os que rodeiam o antigo casino (nunca chegou a ter concessão de jogo, apesar do nome), pintado de cor de ferrugem, e para o lago, artificial. Este recuperou a sua forma original pelas mãos de Siza Vieira, depois de décadas “partido” para integrar as piscinas da estância — aqui vivem carpas koi mas devido ao mau tempo recente a camada de folhas não nos permite vislumbrá-las; ao contrário, um dos patos que aí também habitam e que gostam de passear pela alameda, sendo especialmente assíduos na esplanada da casa-de-chá, surge lançando-se na água como que reclamando o seu espaço.
Há muretes à laia de ameias cobertos de hera e até uma torre se ergue ao lado de uma larga escadaria, mas para mergulhar no parque temos de afastar-nos destes espaços mais delineados e caminhar entre árvores, onde as eco e tree houses do Spa & Nature Park se dissimulam. Os espaços parecem selvagens mas a vegetação guarda gilbardeiras, madressilvas, pilriteiros, verónicas menor dos prados, spireias do Japão, cardos das vinhas e até bambus dourados. Se aparecer um esquilo ou outro é normal e o pica-pau-malhado-grande, a cegonha-branca e a garça real são comuns por aqui — mais circunspecta, a garça-branca-pequena também pode aparecer. O entorno é propício: podia ser a “floresta encantada” de Sophia de Mello Breyner Andresen, com anões a viver nos troncos e tudo. Andreia Marques Pereira
Parque Pedras Salgadas. 5450-140 Bornes de Aguiar. Tel.: 259 437 140. www.pedrassalgadaspark.com/pt
O parque tem entrada livre, está aberto todos os dias e encerra à noite ao público em geral. Fica a pouco mais de uma hora do Porto seguindo pela A3, logo pela A7, a A24 e finalmente pela EN206.
Parque de Monserrate: Pelos caminhos “sinuosos” de uma “floresta encantada”
Quando passamos o Arco de Vathek, no Parque de Monserrate, em Sintra, a guia, Joana Macedo, faz questão de fazer uma pausa: “Parece que estamos a entrar num mundo à parte, imaginário, numa floresta encantada”. Mandado construir pelo escritor William Beckford, o arco de pedra tem, ao lado, dois pinheiros. Passar pelo arco simboliza a “entrada dos homens” naquela floresta, passar pelos pinheiros simboliza a “entrada na natureza”.